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O mês da prevenção ao suicídio chegou para nos lembrar da importância de discutir sobre depressão e outros transtornos
O câncer, a AIDS e demais doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) há duas ou três décadas eram rodeadas de tabus e viam o número de suas vítimas aumentando a olhos nus. Foi necessário o esforço coletivo para quebrar esses tabus, falando sobre o assunto, esclarecendo, conscientizando e estimulando a prevenção para reverter esse cenário. Um problema de saúde pública que vive atualmente a situação do tabu e do aumento de suas vítimas é o suicídio. Pelos números oficiais, são 32 brasileiros mortos por dia, taxa superior às vítimas da AIDS e da maioria dos tipos de câncer. Tem sido um mal silencioso, pois as pessoas fogem do assunto e, por medo ou desconhecimento, não veem os sinais de que uma pessoa próxima está com ideias suicidas.
As razões que podem levar uma pessoa a cometer suicídio são transtornos mentais e psicológicos, como depressão, esquizofrenia e transtorno bipolar, que englobam a maioria dos casos. Algumas vezes ainda, pode ser por impulsividade, vingança, ou doenças crônicas, terminais ou dolorosas, como o câncer.
Quanto maior o silêncio e segredo em torno de um assunto tabu, pior para quem lida com ele. Poder falar e contar a história pode ter um efeito curativo em quem lê e em quem escreve”. Essa é a fala da psicóloga Karen Scavacini, coordenadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, sobre como não falar do suicídio pode ter um efeito tão devastador quanto falar de maneira inadequada.
De acordo com o psicólogo clínico Antonio Carlos Schwab, a preocupação maior dos psicólogos é em como estão sendo divulgados os casos, pois muitas vezes a informação acaba tendo um efeito contrário, que deveria ser de minimizar esse tipo de autoagressão, para a disseminação daquela prática. Enquanto profissionais da área pública e privada, o que podemos fazer é dar atenção não somente ao parasuicida, como também aos sobreviventes, ou seja, a família, destaca.
Ele afirma que entende como parasuicida, pois tudo que a pessoa não quer é sair da vida, mas sim sair do sofrimento. Mas como sair do sofrimento sem sair da vida. Mas ai entra e questão de até que ponto a pessoa teve acesso aos meios para minimizar essa condição de falta de sentido existencial , questiona o psicólogo.
CASOS
Schwab conta que, estatisticamente, as mulheres pensam mais em cometer o ato, no entanto, o homem é o que chega mais ao ato extremo. Já por faixa etária, os maiores casos são entre os jovens entre 18 e 24 anos. No entanto, ele declara que são registradas ocorrências em todas as idades.
Não vejo, em hipótese alguma, isso como um ato de coragem, mas sim uma fraqueza total. Isso porque há muitas formas de dar continente a esse sofrimento. Porém, muitas vezes a pessoa acaba se fechando a tal ponto, como se ninguém pudesse ajudá-la e por um estímulo, por menor que seja, acaba concretizando o ato sem pensar, afirma.
APOIO FAMILIAR
Segundo o psicólogo, na grande maioria dos casos, a pessoa dá sinais claros de que pensam em atentar contra a própria vida. No entanto, a família e amigos acabam ignorando ou acreditam que seja só uma ameaça. Se a pessoa fala ou têm comportamentos de risco, como a auto mutilação que acontece muito entre adolescentes, dirigir alcoolizado e em alta velocidade, uso abusivo de substâncias psicoativas como drogas e álcool, são atitudes parasuicida, que podem causar danos a si mesmo e a outros. A família não deve fechar os olhos e os ouvidos nesses casos. Deve acolher e buscar ajuda imediata e não tentar convencer de que isso vai passar, aconselha Schwab.
ACOMPANHAMENTO
O profissional destaca que a família e a sociedade como um todo, precisam de acompanhamento após o ato porque são atingidas com o impacto da notícia . Isso porque, muitas vezes, é extremamente dilacerante, conflitivo e triste para um integrante do grupo familiar o pós ato extremo, que pode inclusive legar alguém a ter a mesma atitude. Da mesma forma ocorre com a sociedade em geral.