Projeto vai transformar algas de esgoto em etanol
Uma solução sustentável e, economicamente, viável para um problema ambiental. Essa foi a conclusão de uma pesquisa desenvolvida na Unicentro, em parceria com a Sanepar, que acaba de ser registrada como patente de invenção.
A proposta é a produção de etanol a partir de algas provenientes de estações de tratamento de esgoto, as ETEs. A invenção foi certificada pelo Programa Patentes Verdes, do Inpi, que é o Instituto Nacional da Propriedade Intelectual.
Tudo começou quando a destinação adequada desses resíduos chamou a atenção da bióloga da Sanepar em Guarapuava, Márcia Mendes Costa Guareski, quando era aluna do Mestrado em Bioenergia da Unicentro.
A concentração excessiva de algas nas estações afeta a qualidade da água e aumenta os custos do tratamento. Sob orientação da professora Cynthia Beatriz Fürstenberger, Márcia desenvolveu uma nova tecnologia para a resolução do problema.
“A parceria Sanepar e Unicentro aconteceu a partir de um problema operacional que se tem nas estações de tratamento de esgoto com a proliferação excessiva de algas verdes nas lagoas de tratamento. A partir da identificação dessas algas nós vimos que o material de reserva delas era o amido.
O amido é precursor da formação de etanol. Então, com uma técnica inovadora, nós conseguimos um produto com 96% de etanol, estando em conformidade com a Agência Nacional de Petróleo”, contou a pesquisadora.
Essa é a primeira vez que um estudo utiliza algas diretamente das lagoas de tratamento de esgoto para a produção de etanol. Para isso, o resíduo precisa passar por hidrólises, que é a quebra das moléculas de amido em glicose, e, depois, esse açúcar simples é fermentado por organismos, como a levedura do pão, para a obtenção do álcool.
Além de minimizar o acúmulo deste resíduo nos sistemas de tratamento de esgoto sanitário, a matéria-prima de baixo custo para a transformação em biocombustível faz com que o registro dessa patente traga vantagens ambientais e econômicas.
“É com muita alegria que a Unicentro recebe essa carta-patente. Podemos destacar que a universidade é um espaço de incentivo à inovação e a tecnologia, e essa carta patente verde mostra isso.
Com projetos desta natureza, projetos que tem como objetivo resolver problemas do cotidiano, é que uma nação se desenvolve ainda mais, que os problemas do meio ambiente e problemas econômicos vão sendo resolvidos”, destacou o reitor da Unicentro, professor Fábio Hernandes.
A entrega oficial da carta-patente ocorreu na última terça-feira, na sede administrativa da Sanepar, em Curitiba. Na ocasião, além da Unicentro, representada pela Reitoria, pelas pesquisadoras envolvidas e pela equipe da Novatec, que é a Agência de Inovação Tecnológica, também esteve presente o diretor-presidente da Sanepar, Cláudio Stabile.
O pedido de patente em co-titularidade entre Unicentro e Sanepar foi depositado em 2018, pela Novatec.
“Normalmente, os trâmites das patentes demoram deoito a 10 anos para análise no Brasil. Se você pesquisar sobre o Programa Patentes Verdes, você vai ver que ela tem um tratamento prioritário e o trâmite é mais rápido. Neste sentido, nós submetemos a este programa, os documentos e as patentes estavam todos bem adequados e nós conseguimos a carta-patente em menos de dois anos.
Essa é uma conquista tanto para a Agência de Inovação Tecnológica, para a Unicentro, e numa parceria com uma empresa pública. Essa é uma conquista que contribui muito para os nossos indicadores em ciência, tecnologia e inovação da universidade”, explicou a diretora de Propriedade Intelectual da Agência, Cláudia Crisóstimo.
A pesquisa mostrou a viabilidade da utilização da biomassa formada pelas algas que se concentram nas estações de tratamento, eliminando-as por meio de destinação ambientalmente correta e, ao mesmo tempo, produzindo bioetanol. Segundo a bióloga autora do estudo, a utilização de algas se mostra favorável na produção de etanol quando comparada à cana-de-açúcar, por exemplo, que é matéria-prima mais utilizada para esse processo.
Outra vantagem é que em uma das etapas da produção, a biomassa das algas é fermentada com uma bactéria comum nos próprios esgotos, enquanto amaioria dos etanóis é produzida com uma enzima comercial.
“Nunca tinha sido feita a partir do esgoto in natura. Essa é a primeira situação. A segunda é a técnica que nós utilizamos – uma técnica diferente e com pesquisas a nível de Brasil e de outros países que são pioneiros em patentes. Nosso objetivo, agora, é encontrar pessoas interessadas em fazer etanol de terceira geração a partir das algas do efluente, por ser uma matéria-prima de baixo custo, por não ter tanto subproduto após a formação do etanol, e os corpos hídricos ganham sem a ação de algas verdes no efluente”, complementa Márcia.