“É preciso e possível dar um basta na violência contra mulher”, Ariane Pereira

Por João Muniz e Jaqueline Oliveira
A violência contra as mulheres continua assombrando a
sociedade com novos casos e fatos quase que semanalmente. Isso
vem preocupando as entidades representativas que possuem
programas e projetos sociais de apoio. A nossa reportagem
conversou com exclusividade com a professora e jornalista, Ariane
Carla Pereira Fernandes, da Universidade do Centro-Oeste
(Unicentro). A instituição de ensino em graduação desenvolve o
projeto Florescer. Conheça um pouco do projeto e a opinião da
educadora sobre os índices de violência.

Qual é metodologia aplicada neste projeto que é
referenciada por especialistas?
Ariane Pereira Por intermédio do curso de Comunicação Social
nós desenvolvemos o projeto Florescer, numa linha de extensão,
que visa combater a violência contra mulher, que vai desde o
feminicídio, agressão física, moral, sexual, psicológica e
patrimonial. Estamos na 2ª fase, sendo que na primeira foi
produzido material educativo, audiovisuais e impressos. Que foram
construídos a partir de depoimentos de mulheres e com isso
conseguimos romper com um ciclo de violência, fazendo assim
com que outras vítimas se reconhecessem dentro de uma realidade
e buscassem ajuda.

Qual a importância de secretarias e políticas
públicas voltadas para mulheres?
Ariane Pereira- Guarapuava avançou bastante na diminuição dos
índices de violência com a implantação de programas e uma
secretaria específica da mulher. Saímos de um cenário triste que
nos colocava entre 100 cidades do país com maiores índices de
violência, mas que ainda temos casos a serem combatidos. Essa
rede de enfrentamento tem obtidos grandes resultados, tanto pela
secretaria, como pelo núcleo de apoio da Unicentro. Os casos
mostrados pela imprensa demonstram que a violência continua
latente. Por isso precisamos trabalhar na prevenção, que está
sendo executada dentro das escolas municipais de Guarapuava.
Juntamente com a área educacional, estamos aplicando oficinas
com turmas do 3º ano, entre as escolas trabalhadas, destacamos
da Luiza Paulina, no Residencial 2000. O projeto se chama Maria
da Penha nas Escolas. Neste contexto trabalhamos alguns tópicos
do Estatuto da Criança e Adolescentes (ECA), onde as crianças
conseguem assimilar os direitos e deveres. Com isso, elas têm o
discernimento desde cedo que elas possuem o amparo tanto da
família, como da sociedade. Isso vai desde o cuidado dentro e fora
de casa, como também com a educação. O projeto mostra a essas
crianças que não existem ações exclusiva só de mulheres. Na
maioria das vezes as ações precisam ser do pai e da mãe juntos.
Num segundo momento trabalhamos cinco tipos de violência e isso
possibilita eles fazerem conexões com a realidade vivida em casa.
Quando falamos em violência moral e psicológica, alguns
entenderam como bullying e realmente muitas vezes é o mesmo
bullying praticado na escola.

“Somente falando de forma incansável e denunciando a
violência contra as mulheres que vamos conseguir combater e
mudar conceitos de uma sociedade machista.

 Qual a diferença entre equidade e igualdade no
conceito familiar?
Ariane Pereira- A diferença é que a igualdade aparenta
proporcionar oportunidades iguais para as pessoas. É importante
se ater nisso, porque temos uma sociedade que sempre teve uma
preponderância do masculino sobre o feminino, então não temos
uma igualdade. Para construir esta igualdade são necessárias a
construção de políticas públicas que proponham equidade. Isso só
vamos construir quando dermos o apoio necessário às crianças e
as mulheres, construindo pilares ou degraus, onde todos estarão
nos mesmos níveis de compartilhamento, convivência e direitos. É
preciso que desde cedo as crianças tenham este questionamento
do porque o homem e mulher trabalham fora, mas em casa
somente a mulher acaba ficando com os trabalhos domésticos. A
partir disto as crianças começam a utilizar em oficinas alguns
instrumentos de comunicação para produzir alguns conteúdos que
tratam da violência contra mulher na linguagem deles. Isso resultou
em cartazes, paródias e vídeos.

 A união de trabalhos e projetos poderão ser alternativas para diminuir os índices de violência?
Ariane Pereira- A violência contra mulher vem de uma sociedade
machista e patriarcal, em valores culturais que vem sendo passado
de geração em geração. Não podemos nos iludir que vamos mudar
esse padrão de comportamento de uma hora para outra.
Precisamos de uma construção coletiva que faça com que as
pessoas comecem a pensar diferente. A sociedade ainda tem
algumas concepções que só a mulher deve lavar uma roupa em
casa ou por vestir uma saia curta está propensa ao assédio, onde
temos dificuldade de mudar isso na cabeça das pessoas. Só vamos
mudar isso quando todos trabalharem juntos. Em Guarapuava a
secretaria de Políticas Públicas começou em 2013, com a Eva
Shran, depois veio a Priscila. Nós somos uma das poucas cidades
do Brasil que tem uma casa abrigo, como também um Centro de
Referência para Mulheres (CRAM). Precisamos fazer com que as
mulheres que estejam sofrendo qualquer tipo de violência busquem
estes órgãos de apoio. A cidade ter saído do mapa negro dos
índices de violência, pode dar a sensação que estamos livres deste
cenário vergonhoso, mas na realidade os noticiários têm mostrado
o contraditório. Antes a violência estava muitas vezes escondida
dentro de casa, sem um apoio ou local para denunciar. Com o
amparo da Lei Maria da Penha, as mulheres precisam buscar apoio
e sair de uma situação de dependência e medo.

 De que forma você avalia a violência dentro das classes sociais?
Ariane Pereira- Esse é ponto fundamental que trabalhamos dentro
do projeto Florescer, mostrando que a violência contra mulher não
tem classe social, escolaridade ou cor. A sociedade tem uma visão
que a violência acontece nas classes sociais e lugares menos
favorecidos, pessoas negras e os fatos tem provado ao contrário.
Como vimos nos casos: Tatiane Spitzner e Luíza Brunet, que
envolveu pessoas bem relacionadas e com padrão de vida elevada.
Provando que não existe um perfil de vítimas, ela acontece em
todas as classes sociais, podendo ganhar menos notoriedade nas
classes menos favorecidas. No caso da Tatiane, talvez se tivesse
acontecido na periferia da cidade, a sociedade não tivesse olhado
com tanto fervor.

 Muitas vezes a imprensa é vista como sensacionalista. De forma atenuar este tipo de notícia?
Ariane Pereira- O jornalismo não deixa de ser o resultado desta
sociedade a qual vivemos. Então ele também faz parte desta
cultura machista, estereotipada, que em alguns momentos tem
esse discurso. Quando entrei para curso ou em pós-graduação não
se falava em políticas públicas voltadas para mulheres, crianças,
índios ou negros na comunicação. Nos dias atuais nós temos um
planejamento pedagógico que faz com que possamos trabalhar
esses temas em sala de aula. Aqui na Unicentro temos uma
disciplina de Políticas Públicas, onde o acadêmico vai estudar,
construir pesquisas científicas abordando estas questões. Temos
uma vertente de jornalismo que estuda equidade de gênero, onde
os futuros jornalista são levados a pensam, que ao fazer uma
entrevista ou escrever as matérias com quem estamos falando.
Precisamos entender que quando trabalhamos uma notícia, se
todos estão sendo impactados da mesma maneira, nem sempre é
assim. O jornalismo vem passando por uma reconfiguração, com
vários caráteres, o tecnológico e as questões sociais. As mídias
sociais possibilitaram com que os profissionais começassem a
produzir conteúdo de modo diferenciado. Com empresas em
dificuldades financeiras, que estão tendo que se recriar. Penso que
vai sobreviver quem voltar para essência do jornalismo, com
parâmetros que exigem a pesquisa, investigação, denúncia e tentar
ouvir os dois lados em questão. Mesmo em momentos onde não
agimos com imparcialidade é preciso ouvir ambas as partes.

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