O livro que Bolsonaro tentou mostrar na Globo

O polêmico livro que caiu em desgraça no Brasil (Foto: Reprodução)

 

Por Jonas Laskouski

 

Em mais uma entrevista mal conduzida pelos jornalistas Willian Bonner e Renata Vasconcellos, desta vez com o candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), um dos momentos mais tensos foi, sem dúvida, a tentativa de Bolsonaro de mostrar um certo livro, ao ser indagado sobre homofobia.

Segundo o candidato, a publicação era parte do chamado “kit gay”, material que supostamente seria distribuído nas escolas durante o governo da então presidente Dilma Rouseff.

Bolsonaro insistiu em mostrar o livro e chegou, inclusive, a mandar um recado aos pais que estavam assistindo à entrevista para que tirassem seus filhos da sala. As câmeras se afastaram e os apresentadores impediram o candidato de exibir o tal livro, alertando que nenhum entrevistado poderia mostrar nenhum tipo de documento.

Lançado no Brasil em 2007 pela Companhia das Letras, o livro em questão é de uma autora francesa. “Aparelho Sexual e Cia. – Um Guia Inusitado para Crianças Descoladas” foi motivo de polêmica há alguns anos. Segundo a Gazeta do Povo, “em 2016, o deputado federal postou vídeos nas redes sociais em que afirma que a obra é uma coletânea de absurdos que estimula precocemente as crianças a se interessarem por sexo. É uma porta aberta para a pedofilia.

 

(Imagem: Reprodução)

 

Bolsonaro diz, na filmagem, que o governo teria comprado milhares de unidades do livro e as distribuído em escolas públicas. “É uma grana para os companheiros e fica pervertendo seu filho na sala de aula. Para que o filho de pobre, na escola pública, não aprenda nada e seja apenas um beneficiário do Bolsa Família.”

O livro foi publicado em mais de 10 idiomas, com 1,5 milhão de exemplares vendidos no mundo, mas caiu em desgraça no Brasil ao ser acusado por educadores e religiosos de ensinar crianças a fazer sexo.

O tal livro, no entanto, jamais foi comprado pelo governo brasileiro ou distribuído em escolas públicas. A informação já havia sido desmentida pelo Ministério da Educação em uma nota divulgada em 2016.

O Ministério da Educação (MEC) informa, em nota, que não produziu e nem adquiriu ou distribuiu o livro Aparelho Sexual e Cia, que, segundo vídeo que circula em redes sociais, seria inadequado para crianças e jovens brasileiros. O MEC afirma ainda que não há qualquer vinculação entre o ministério e o livro, já que a obra tampouco consta nos programas de distribuição de materiais didáticos levados a cabo pela pasta, diz a nota.

 

EDUCAÇÃO SEXUAL

Segundo a escritora e especialista na área, Caroline Arcari, “a educação sexual não erotiza a criança nem faz com que ela queira sair transando com os colegas por aí”.

 

“Educação Sexual é a ferramenta mais importante de prevenção da violência sexual, pois se a criança pode falar sobre sexualidade com os adultos de confiança (família, educadores), ela também se sente a vontade para pedir ajuda ou relatar uma situação de perigo e abuso. O contrário também é verdadeiro: se a criança não pode falar sobre sexualidade, ela pensa que não pode falar sobre violência sexual também”.

 

A especialista conta ainda que de todas as crianças vítimas de violência sexual que já atendeu (mais de mil denúncias pelo Instituto Cores, no Rio de Janeiro), a maioria delas tinha uma característica em comum: tinham poucas informações ou não estavam habituadas a falar sobre sexualidade com ninguém, “logo, guardavam segredo, sentiam-se bloqueadas para pedir ajuda e algumas, sequer sabiam que termos usar para explicar o que havia acontecido”, conta Carolina em um blog na internet.

 

VIOLÊNCIA SEXUAL

Dados do governo mostram que em 2015 e 2016, o Disque 100 recebeu 37 mil denúncias do crime com pessoas de até 18 anos. Cerca de 67,7% das crianças e jovens que sofrem abuso e exploração sexuais são meninas. Os meninos representam 16,52% das vítimas.

As ligações no Disque 100 são gratuitas, e as denúncias são anônimas. O atendimento é 24h e ocorre inclusive nos domingos e feriados.