Pesquisa analisa benefícios dos exercícios físicos em pacientes com câncer
Estudo da Unicentro tem como objetivo investigar o impacto da atividade física durante a quimioterapia
Investigar de forma pioneira o impacto do exercício físico em pacientes com câncer, este é o objetivo da pesquisa coordenada pelo professor Marcos Roberto Queiroga, do Departamento de Educação Física do Câmpus Cedeteg. Intitulada “Efetividade da intervenção com exercício aeróbio em cicloergômetro durante a infusão quimioterápica em pacientes com câncer de mama”, a pesquisa é mais um projeto da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) contemplado no edital de Bolsa Produtividade em Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico, da Fundação Araucária.
Desenvolvida há cerca de um ano e meio, no Cancer Center do Hospital São Vicente de Paulo, a atividade é fruto de uma tese de doutorado orientada pelo docente da Unicentro no Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física da UEM-UEL (PEF). Por meio de uma abordagem pioneira, o estudo tem como objetivo investigar o impacto do exercício físico durante a infusão de quimioterapia, inicialmente em pacientes com câncer de mama.
Os participantes são distribuídos aleatoriamente em dois grupos comparativos, sendo considerado um ensaio clínico randomizado unicego de dois braços. A proposta envolve a ação de pedalar uma bicicleta estacionária enquanto a paciente recebe a infusão do medicamento. A intensidade do esforço é controlada entre 30% e 40% da frequência cardíaca de reserva.
Apesar das evidências promissoras envolvendo o exercício físico na prevenção e tratamento do câncer, há uma lacuna importante na literatura e na prática clínica no que diz respeito à possível influência da realização de exercícios simultaneamente à infusão de quimioterapia, em reações adversas comuns aos pacientes oncológicos.
Acredita-se que os resultados desta pesquisa possam contribuir significativamente para o desenvolvimento de novas diretrizes clínicas que promovam o bem-estar dos pacientes, oferecendo uma alternativa viável para mitigar os impactos negativos do tratamento oncológico, ao mesmo tempo em que avalia os desafios e benefícios da implementação dessa intervenção em contextos reais de cuidados de saúde.
A intenção é, futuramente, ampliar esse estudo para pacientes com outros tipos de câncer. “A nossa proposta é reduzir os efeitos colaterais da quimioterapia que afetam comumente os pacientes, como fadiga, náuseas, vômitos, diarreia e alterações no peso corporal. Como a infusão da quimioterapia costuma ser demorada, a inclusão do exercício pode ajudar a melhorar o fluxo sanguíneo, potencializar os efeitos do medicamento e minimizar os efeitos colaterais”, detalhou Marcos.
Inserção dos profissionais de Educação Física no ambiente hospitalar
Um dos maiores desafios enfrentados pelos pesquisadores foi a resistência inicial da equipe médica. De acordo com o professor, muitos médicos estavam céticos quanto à ideia de aplicar exercícios durante a quimioterapia, já que a literatura médica até então não apresentava estudos controlados que envolvessem essa combinação. A abordagem tradicional era utilizar a prática de exercícios como uma forma de prevenção ou de tratamento após a quimioterapia, mas nunca em conjunto com a infusão do medicamento. Contudo, à medida que os pacientes começaram a experimentar os benefícios, a percepção mudou. “Hoje os médicos perceberam que os pacientes que realizaram os exercícios reportaram benefícios como maior disposição e até maior desejo de realizar mais atividades físicas”.
O professor Marcos Queiroga ressalta ainda a relevância da inserção de profissionais de Educação Física em ambientes hospitalares, especialmente em tratamentos como a quimioterapia. “A ideia é que, no futuro, possamos contar com profissionais de Educação Física especializados para prescrever exercícios com as doses adequadas. Tratamos o exercício como um medicamento: assim como qualquer outro remédio, ele deve ter uma dosagem, baseada na frequência, intensidade, duração e tipo de exercício”, destacou.