Há dois anos em Guarapuava, o Serviço de Residência Terapêutica (SRT) possibilita o tratamento humanizado para pacientes com transtornos mentais. O local propicia ao interno uma condição de experimentar situações próprias da vida comum, representada pela convivência com a comunidade, e também tomar decisões a respeito de sua própria vida.
“Este é um importante serviço oferecido pelo município. Sabemos da relevância em termo um atendimento de qualidade e humanizado as pessoas com transtornos mentais. O Serviço de Residencial Terapêutico (SRT) em Guarapuava é responsável pelo processo de reabilitação psicossocial e inclusão social”, explicou a secretária de Saúde de Guarapuava, Chayane Andrade Ceroni
“Ele é constituído para responder às necessidades de moradia de pessoas portadoras de transtornos mentais graves, uso e abuso de álcool e outras drogas, com histórico de internamentos psiquiátricos e com vínculos familiares e sociais fragilizados ou rompidos”, destacou a secretária.
Conforme Chayane, uma residência terapêutica caracteriza-se como moradia inserida na comunidade destinada às pessoas com transtorno mental, egressas de hospitais psiquiátricos ou hospitais de custódia, que garanta o convívio social, a reabilitação psicossocial e o resgate de cidadania, promovendo os laços afetivos, a reinserção no espaço da cidade e a reconstrução das referências familiares.
A residência promove também a adesão dos portadores de transtornos mentais aos serviços ambulatoriais de saúde: Unidades Básicas de Saúde (UBS), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS II e CAPS AD), assim como aos espaços dos centros comunitários do bairro e outros dispositivos de uso da comunidade.
As residências terapêuticas possuem destinações de grau I e II. O encaminhamento de moradores para as residências terapêuticas tipo II deve ser previsto no projeto terapêutico elaborado por ocasião do processo de desospitalização, focado na reapropriação do espaço residencial como moradia, na construção de habilidades para a vida diária, referentes ao autocuidado, alimentação, vestuário, higiene, formas de comunicação e aumento das condições para estabelecimento de vínculos afetivos, com consequente inserção dos pacientes na rede social existente.
“Para ser acolhido na residência terapêutica, o usuário passa por uma avaliação da Comissão de Acolhimento em Serviço Residencial Terapêutico e, após o aceite, uma equipe multidisciplinar vinculada aos CAPS faz a avaliação e acompanhamento da condição clínica e psiquiátrica desses usuários. É importante ressaltar também a necessidade dos outros pontos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) estarem envolvidos no processo de acolhimento.
Atualmente, na residência ficam os técnicos em enfermagem que se revezam 24h por dia, em sistema de plantão, assim como outros profissionais como assistente social e terapeuta ocupacional para que os cuidados sejam integrais e que garantam a autonomia, estabelecimento e fortalecimento de vínculos, ressocialização, promoção de saúde e a qualidade de vida para os moradores”, destacou a chefe coordenadora de Saúde Mental do município, Fernanda Bariquelo.
Visando respeitar a harmonia domiciliar com relação ao gênero, história de vidas, as especificidades dos acolhidos, cada residência pode receber o limite de 10 pacientes. Guarapuava possui duas residências terapêuticas tipo II, sendo uma feminina, hoje com nove pacientes, e uma masculina com 7 pacientes acolhidos. As equipes assistem os pacientes 24 horas na forma de plantões, incluindo o período noturno e os fins de semana, onde cada dois profissionais são destinados aos cuidados dos acolhidos.
Dentro das residências os pacientes realizam diversas atividades motoras e cognitivas, também há pacientes que frequentam o ambiente escolar, garantindo educação básica e profissional, dentro do possível.
O técnico de enfermagem responsável na residência terapêutica feminina, Marcos Aurélio dos Santos, explicou que o artesanato, além de ajudar a fortalecer o protagonismo das pacientes dentro da casa, auxilia em suas habilidades para a independência.
“Nós acabamos auxiliando elas na produção e ensinando muitas vezes como, por exemplo, o crochê. Elas não têm um total domínio das mãos ainda, então a gente acaba auxiliando e ensinando. Mas depois de um tempo a coordenação (motora) vem e elas começam a trabalhar sozinhas.
A pintura a gente estimula para não deixar os músculos pararem de trabalhar, ajuda na coordenação dos dedos também. E serve para elas terem ali um acervo de material, um desenho, uma pintura, uma toalhinha de autoria delas. Elas se sentem mais importantes e mais queridas com essa contribuição artística dentro da residência”, comentou Marcos.
“Eu gosto de ajudar nas coisas da casa. As meninas (equipe) lavam a roupa e eu distribuo para as outras da casa. Minhas coisas estão sempre ‘organizadinhas’, meus produtos de higiene estão todos nas sacolinhas, eu gosto de manter a logística da casa”, relatou uma paciente atendida na residência terapêutica.
Assim como na RT feminina, a residência masculina também possui diversas atividades, entre elas está a horta de legumes e vegetais que os próprios pacientes manusearam.
“A gente procura dar mais autonomia para eles. Para que eles possam sair daqui, ir para a família e poder fazer alguma coisa, não ficar só na comodidade. A horta eles mesmo plantaram e cuidaram, a gente auxilia, mas eles tem essa independência na medida do possível”, ressaltou o coordenador da residência terapêutica masculina, Ramerito de Paris.