Movimento antivacinas se dissemina pelo país

312 cidades brasileiras não vacinaram mais da metade das crianças de até 1 ano

Foto: Divulgação

O Ministério da Saúde emitiu um alerta na última terça-feira (03) para evitar o retorno de doenças ao país, em consequência da não vacinação de crianças e adultos. Um movimento antivacinas, que começou na Europa e também no Brasil trouxe de volta algumas doenças fatais e com registros de vítimas em sarampo, caxumba e coqueluche, além do vírus H1N1 (gripe). O movimento antivacina é encabeçado por pais que decidem não vacinar seus filhos. Não havia registro de casos de sarampo no Brasil desde 2001 (doença considerada erradicada no país).

Em 2017, o MS havia alertado para a necessidade de reforçar a vacinação tríplice por causa do aumento de casos na Europa. A primeira dose da vacina, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, deve ser tomada aos 12 meses de idade. Aos 15 meses, é necessária uma dose da vacina tetraviral, que corresponde à segunda dose da vacina tríplice viral mais uma dose da vacina contra a varicela.

De acordo com o Ministério, crianças de até 4 anos ainda podem receber a vacina tetraviral, caso haja atraso na imunização. A partir dos 5 anos e até os 29 anos de idade, deverão ser administradas duas doses da vacina tríplice viral.

Pessoas de 30 a 49 anos de idade devem receber uma só dose da vacina tríplice viral, caso não tenham sido vacinadas na idade correta.

FENÔMENO EM GUARAPUAVA

A reportagem conversou com exclusividade com a diretora de Divisão da Vigilância Sanitária e Epidemiologia de Guarapuava, Chayane Andrade, sobre o assunto, onde a mesma lamenta o fato de a população não estar atenta às campanhas de vacinações e com isso – mesmo com todo o esforço das equipes de saúde, os índices não estarem sendo atingidos no município. Temos uma queda expressiva nos índices das pessoas que deveriam ser vacinadas nas campanhas e no dia a dia. Nossa maior preocupação é com as crianças. Esse movimento vem fazendo com que as pessoas interpretem que os governos não querem pessoas saudáveis e com uma boa qualidade de saúde, avalia Chayane. De acordo com a epidemiologista, algumas doenças estão retornando única e exclusivamente pela falta de vacinação.

Nesta última campanha de vacinação contra influenza, abrimos as unidades para vacinação e não conseguimos atingir 30% da meta, diz a epidemiologista Chayane Andrade

Na última campanha de vacinação contra gripe, os índices chegaram a 79%, quando o MS exige 90%. No público infantil, os índices foram mais baixos ainda, com 58% de crianças de dois a quatros anos vacinadas. As consequências disso têm sido filas de pessoas nas unidades de saúde, em busca de consultas médicas e remédios, frisou ela. Em outras campanhas também houve baixas nos índices, com uma variação de 73 a 78% do público vacinado. Infelizmente em nenhuma vacinação atingimos os índices apropriados. Algumas doenças já se tornaram evidentes como a paralisia Infantil, coqueluche e agora o sarampo. Temos casos confirmados no país, alertou ela.

A maior preocupação dos setores de saúde é com o público itinerante, ou seja, pessoas que estão em constante fluxo de viagens de uma região para outra. Nós temos uma população suscetível de 30 a 40%, que deveria estar vacinada e que em circulação no país e viagens no exterior estão expostas a essas doenças, reiterou.

As mães que são contra a vacinação hoje, são as mesmas que foram vacinadas de forma regular. Se formos ver, a carteirinha delas está em dia, enquanto seus filhos estão expostos as doenças. A vacina é a forma mais clara de prevenção e evitar o risco de morte em muitos casos, afirma Chayane Andrade.

BALÃO E PIRULITO

A profissional ainda lamenta que mesmo com as campanhas e a distribuição de balões, pirulitos e muitas vezes até com cafezinho a população não esteja se sensibilizando na mobilização das vacinações. Ela também disse que do mesmo modo que a internet e mídias sociais agem como informação positiva, também existe a disseminação de notícias falsas, de fatos que não são verídicos. Nesta última campanha de vacinação contra influenza no Dia ‘D’, abrimos as unidades para vacinação e não conseguimos atingir 30% da meta. Todos os profissionais e uma dinâmica envolvidos, e as pessoas não compareceram, disse ela. A única exceção está na vacina BCG, quando a criança toma ainda bebê, protegendo os pequenos contra a tuberculose miliar e meningite tuberculosa.

OUTROS CASOS

Em relação à poliomielite, 312 cidades brasileiras não vacinaram mais da metade das crianças de até 1 ano. Controle é garantido quando pelo menos 95% das crianças são vacinadas. Atualmente, a média nacional de cobertura é de 77%. A Itália, onde o movimento antivacina ganhou força nos últimos anos, foi o segundo país com o maior número de casos de sarampo em 2017. 53 países classificados pela OMS registraram 21.315 casos da doença em 2017 (35 deles resultaram em morte).