Um de meus passeios preferidos quando visitava minha avó em minha infância, era ir ao aeroporto. Adorava ver os aviões aterrissando, a fumaça da borracha queimada que sai quando os pneus tocam o asfalto. Ficava imaginando quando eu voaria pela primeira vez. Escutava relatos de pessoas falando sobre turbulências enfrentadas durante o vôo e pensava: “Como é essa tal de turbulência??”.
Vinte e sete anos se passaram, e hoje a pergunta que me faço é: “Como sairemos dessa turbulência?”
Semana após semana as previsões são as piores, nada melhora, tudo piora, a marola virou Tsunami e o povo não aguenta mais. Dentre tantas pessoas que escuto e converso posso afirmar que ninguém ou melhor, praticamente ninguém realmente tem a noção do buraco em que nos afundamos. Buraco moral, não falo de economia não, falo de conceitos e princípios.
Estamos vivendo dias em que uma parte da população acredita que tudo está assim porque o PT está no poder ha 12 anos, outra parte ainda pensa que tudo está assim porque tucanos estão armando um golpe de estado. Posso citar ainda uma terceira parcela da população que está alienada e tal qual Poncio Pilatos está lavando suas mãos.
Quero hoje tentar despertar o ímpeto de uma quarta parcela, aqueles que sabem que isso não é um jogo de futebol e nem um cabo de guerra, aqueles idealistas ufanistas que acreditam que ainda existe uma solução. Faço isso porque sou um desses,apesar de quase não ter esperanças ainda acredito que existem muitas pessoas de bem que podem fazer a diferença nessa país.
Vivemos em um sistema político composto por três poderes que deveriam ser independentes mas que, na prática são tão dependentes um do outro como uma criança que precisa ser alimentada pelos pais. Legislativo que funciona como marionete do executivo, executivo que vive em função de agradar a “base” aliada (entenda-se o legislativo) e ainda trocando presentinhos com o judiciário.O Poder Judiciário, talvez o último baluarte incorruptível dos poderes tem se mostrado cada vez mais, uma peça do quebra cabeça chamado República Federativa do Brasil.
Deputados votam aumento de auxílios para Juízes. Juízes julgam ações que muitas vezes envolvem deputados. Governadores “lobeyam” votos com deputados para esses agradarem juízes e assim o círculo está completo. O círculo e o circo estão completos mas a tal independência clamada por Dom Pedro em 7 de setembro, essa continua sendo um sonho.
Raramente nos dias de hoje podemos ver deputados que votam leis por convicção própria, se A está no poder, B vota sim. Se B está no poder B vota não. Como assim? Você gosta de churros? Depende se o Churros for feito pelo meu pai eu gosto, mas se for feito pelo meu tio eu odeio tanto que acho que deveria ser proibido a sua produção.
Pode ser que a pessoa nem goste de churros, mas como quem paga a mesada e o sustenta é o pai, então o churros do pai ele gosta. Este exemplo pode não ser o mais culto e nem o melhor mas ele retrata fidedignamente a crise existencial dos nossos poderes. Deputados e Vereadores que muitas vezes até não concordam com um ou outro projeto, mas mesmo assim votam favorável afinal de contas o projeto é do “pai”.
Oposição com discurso besta e barato, falando bravatas populistas para agradar o povo, esses tem uma vida mais fácil, pois com certeza é mais fácil atirar pedras do que defender-se delas. Vejo muito gente reclamando porque os deputados de nossa cidade votaram a favor de um projeto, ou contra outro projeto. Essas mesmas pessoas são as que reclamam quando esse mesmo deputado não consegue uma verba se quer para o município.
Será que a população é tão inocente que não percebe que o nosso sistema não permite legisladores com personalidade e que saibam dizer sim e não conforme suas convicções e “executores” que saibam respeitar essas convicções? Sempre quis saber como era uma turbulência, agora que sei como é estou louco pra sair dela. Sabem qual é o problema? Pode ser tarde demais, e talvez nunca consiga sair dela.
P.S – Escrevo essa coluna para uma reflexão do leitor, e levanto-me mais uma vez ao lado da liberdade de expressão, não posso admitir ameaças por não pensar da mesma maneira que outros. Jihadistas travestidos de sindicato, que assim como em Paris estão loucos para calarem as vozes dos “Charlies” da vida. #JE SUISCHARLIE #NOUSSOMESCHARLIE