Paraná vira referência em reaproveitamento de alimentos

Doações de produtos in natura ou processados nas Ceasas do Estado beneficiam cerca de 1,3 milhão de pessoas direta e indiretamente por meio de 342 instituições

No Paraná, o programa Banco de Alimentos Comida Boa, do Governo do Estado, tornou-se um exemplo de política pública com objetivo de evitar o desperdício de alimentos, ao garantir o reaproveitamento de frutas, verduras e outros produtos alimentícios que iriam para o lixo por não terem condições de ser comercializados, beneficiando assim cerca de 1,3 milhão de pessoas direta e indiretamente.

A iniciativa coleta alimentos não comercializados pelos atacadistas e produtores rurais, mas que ainda estão em boas condições de consumo. Os alimentos são doados in natura ou processados para 342 instituições que prestam assistência social, como creches, orfanatos, casas de recuperação, abrigos e hospitais públicos, além de também serem utilizadas no contraturno escolar e repassadas diretamente a famílias em situação de vulnerabilidade social.

Criado em abril de 2020, por causa da pandemia, o programa evitou de imediato o desperdício de aproximadamente 50 toneladas de alimentos que eram descartados diariamente. A iniciativa é coordenada pela Ceasa Paraná e, depois de um período inicial de funcionamento em Curitiba, está atualmente disponível nas demais Centrais de Abastecimento, em Cascavel, Foz do Iguaçu, Londrina e Maringá.

Segundo o presidente da Ceasa Paraná, Eder Bublitz, o programa tem evoluído gradativamente, com melhoria dos processos e ampliação da abrangência. Em 2023, foi doada uma média de mais de 443 toneladas de alimentos por mês, o que representa um volume anual de 5,3 mil toneladas. Já entre janeiro e julho de 2024, a média das doações está em 466 toneladas mensais, um aumento de quase 5% entre os dois anos.

“São alimentos que, apesar de estarem em um ponto que não atende a demanda para venda nos mercados, possuem altíssima qualidade nutricional e estão em perfeitas condições de consumo”, explicou Bublitz. “Tenho a convicção de que vamos superar o volume de alimentos doados no ano passado com centenas de entidades que trabalhamos em parceria”.

Um dos casos mais emblemáticos é o Criadouro Conservacionista Onça Pintada, em Campina Grande do Sul. A entidade recebe cerca de 29 toneladas por mês pelo programa em uma parceria que completou um ano em setembro.

Reconhecimento Internacional – Os resultados do programa paranaense têm chamado a atenção de outros estados e até mesmo de outros países, como a Alemanha, México, Paraguai, Chile, Bolívia e Peru. “Já recebemos diversos representantes internacionais na Ceasa, que vieram conhecer o projeto do Governo do Paraná para replicar este modelo de redução do desperdício de alimentos”, contou o presidente da Ceasa Paraná.

A alta capilaridade do programa, somada aos múltiplos benefícios propiciados, fez com que o Banco de Alimentos Comida Boa fosse apresentado na Organização das Nações Unidas (ONU) pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior em 2023 como um exemplo de iniciativa governamental. No início deste mês, o programa recebeu um novo reconhecimento internacional ao conquistar o ouro no Stevie® Awards, uma das maiores premiações empresariais do mundo.

Educação – Além de visitantes de fora do Brasil, outro público que aparece frequentemente nos corredores da Ceasa são estudantes e professores do ensino fundamental. Eles participam do programa Ceasa Recebe, que tem como intuito justamente ensinar as crianças sobre a origem dos alimentos que consomem e também exemplos de como evitar o desperdício de alimentos.

“Receber as crianças de escolas municipais e estaduais aqui é como plantar a semente do futuro, porque assim elas podem criar a consciência sobre a importância de cuidar melhor daquilo que consomem, como evitar danificar frutas e verduras quando vão ao mercado ou à feira e, com isso, permitir que mais pessoas se alimentem adequadamente”, afirmou Bublitz.

O professor de Educação Ambiental da Escola Municipal Belmiro César, de Curitiba, Jonas da Silva, acompanhou um grupo de alunos em visita à Ceasa. Na opinião dele, o contato das crianças com esse processo de reaproveitamento e distribuição dos alimentos ajuda a despertar uma responsabilidade maior deles com a comida.

“A ideia de trazer os estudantes aqui é mostrar que nem todo alimento é desperdiçado e que eles também podem fazer isso na casa deles, reaproveitando frutas e verduras e evitando o descarte quando possível, e aqui eles têm uma visão de como podem fazer isso”, relatou o professor.

“Aqui nós não vemos nenhum desperdício e todo o alimento que chega é reaproveitado de uma forma, com desperdício zero, então é um aprendizado importante para eles, que podem levar esse conhecimento para o cotidiano nas escolas e também junto às famílias”, acrescentou Silva.

Reinserção Social – Outro benefício do programa acontece com a parceria do Departamento de Polícia Penal do Paraná (Deppen) com a ressocialização de pessoas privadas de liberdade. Detentos que são monitorados por tornozeleira eletônica trabalham no processamento dos alimentos que não podem ser doados in natura e participam de atividades de capacitação em educação alimentar.

“São pessoas que tinham dificuldade de recolocação no mercado de trabalho e querem mudar de vida. Hoje, o nosso índice de reinserção no mercado formal entre os participantes do Banco de Alimentos é de 72%”, esclareceu Bublitz.

Como Participar – Para se cadastrar no programa, o representante legal da instituição interessada em receber doações devem formalizar o pedido via formulário próprio, cujas orientações completas estão disponíveis no site da Ceasa. Já os professores e diretores de escolas que queiram organizar visitas ao Banco de Alimentos Comida Boa podem fazer o cadastro no Ceasa Recebe.