Como alcançar a longevidade empresarial?

Sabe-se da dificuldade de manter uma empresa ativa por mais de dez anos no Brasil, conforme aponta os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em que apenas uma em cada quatro empresas conseguem se manter no mercado por mais de uma década.

Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como  advisor  à frente da MORCONE, ajudando empresas, com destaque para as familiares, abordo sobre a importância da visão de longo prazo para alcançar a longevidade empresarial no mercado.

Longevidade empresarial – Inspire-se em grandes exemplos

Sem dúvidas, o passado pode ensinar muito sobre como preservar um legado no futuro e existe um bom exemplo para que empresas brasileiras possam se inspirar. Trata-se da associação Les Hènokiens que reúne 56 empresas de controle familiar com mais de 200 anos de existência.

Dentre as regras para fazer parte do grupo, estão:

  • Ter, no mínimo, 200 anos de história no mercado;
  • Empresa deve ser administrada por um descendente do fundador;
  • Família fundadora deve possuir mais de 50% do patrimônio da empresa;
  • É necessário que apresente saúde financeira;
  • Governança precisa estar alinhada aos pilares da sustentabilidade socioambiental;
  • Empresa precisa ser convidada para fazer parte da associação.

Atualmente, fazem parte do seleto grupo de empresas: quinze francesas, quatorze italianas, dez japonesas, cinco suíças, quatro alemãs, duas holandesas, duas austríacas, duas belgas, uma inglesa e uma portuguesa.

Dentre as principais características que contribuem para que essas empresas sejam bicentenárias, estão:

  • Equilíbrio da herança cultural com a inovação;
  • Qualidade, confiança e entrega de valor;
  • Possuem plano de sucessão estruturado;
  • Oferecem formação para os futuros líderes da empresa;
  • Vivenciam a governança e os princípios da sustentabilidade;
  • Visão de longo prazo se mantém afiada através dos séculos.

Essas empresas se mantêm a partir de um padrão em que a longevidade é conquistada por meio de decisões práticas dia após dia. Por onde começar?Construindo uma visão de longo prazo no seu negócio

Muitas empresas estão focadas em decisões de curto prazo, atendendo às necessidades urgentes do negócio. Esse comportamento, comum especialmente entre as PMEs, frequentemente resulta em uma gestão voltada para “apagar incêndios”.

É fundamental que a visão de longo prazo esteja incorporada à cultura da empresa, permitindo o planejamento antecipado de estratégias para garantir o crescimento do negócio mesmo em um futuro de incertezas.

Em uma realidade que enfrenta recorrentes mudanças, essa característica é crucial para maior adaptabilidade ao mercado e, consequentemente, para que o negócio se mantenha relevante em um cenário de ampla competitividade.

Para desenvolver uma visão de longo prazo, destaco a necessidade de que o negócio:

Tenha uma cultura que valorize a visão de longo prazo

Às vezes, a empresa pode precisar sacrificar resultados de curto prazo para alcançar a sustentabilidade desejada no futuro. Uma cultura que valoriza a longevidade pode ser promovida através da educação e do treinamento contínuos de todos os envolvidos no negócio.

Crie parcerias estratégicas para o alcance de objetivos

Assumir parcerias estratégicas como, por exemplo, com empresas que compartilhem do mesmo propósito e que também tenham a visão de longo prazo como uma de suas principais diretrizes, é essencial.

Tenha perseverança no processo

Ter uma empresa que atravessa gerações e se mantém competitiva leva tempo e requer esforço, sendo assim, uma característica ou soft skill fundamental, sem dúvidas, é a perseverança no processo.

Construindo uma empresa que resiste ao tempo

Estudo desenvolvido pelo Banco Mundial mostrou que 30% das empresas familiares chegam à terceira geração e apenas metade delas, 15%, sobrevivem ao processo.

E dentre os principais obstáculos à longevidade, lideram a lista:

  • Apego e centralização excessiva de poder;
  • Sobreposição de papéis;
  • Dificuldade em reconhecer e lidar com as próprias limitações pessoais;
  • Falta de um planejamento sucessório estruturado.

Centenas de empresas vivenciam essa realidade em que a tomada de decisões depende principalmente do fundador ou de outra figura de liderança do negócio, sendo assim, em muitos casos, a alta liderança não consegue se concentrar em ações estratégicas ligadas ao core business do negócio porque estão sobrecarregadas com atribuições que poderiam estar distribuídas sobre outras pessoas na empresa.

Além disso, grande parte dos líderes enfrenta dificuldades quanto a reconhecer suas limitações, o que pode levá-los a duas possibilidades: delegar a tarefa a um profissional mais experiente, ou adquirir o conhecimento necessário para que possa desempenhar o papel da melhor maneira. Porém, o mais recorrente é a dificuldade em aceitar a necessidade de mudança pessoal.

Também ressalto a ausência de planejamento sucessório estruturado como um fator-chave para que a maioria das empresas familiares infelizmente continue fazendo parte das estatísticas de empresas que não conseguem chegar à segunda geração e sobreviver à terceira.

Não resista à profissionalização do seu negócio

Em muitas empresas, como já mencionado, a alta liderança resiste à profissionalização por dificuldades em confiar a administração da empresa a profissionais externos. Sendo assim, o primeiro passo para essas empresas costuma ser a implantação do conselho consultivo com a finalidade de:

  • Direcionar estrategicamente a empresa;
  • Orientar as principais ações de planejamento estratégico para alcançar a sustentabilidade empresarial;
  • Incorporar práticas de governança eficientes;
  • Redimensionar as atribuições profissionais de acordo com a realidade do negócio e com as expertises existentes;

Entre outras.

Mais do que investir energia em estratégias para ganhos rápidos, é essencial inverter a pirâmide de prioridades de maneira que a longevidade esteja no topo.

Ter uma visão de longo prazo permite que as empresas assumam maior controle diante das mudanças. Isso facilita a criação de oportunidades e as torna menos vulneráveis a tomar decisões forçadas por fatores externos.

Destaco a importância de que a empresa busque apoio profissional quando tem encontrado dificuldades para conseguir alcançar seus objetivos de crescimento ou até mesmo para desenvolver estratégias de longo prazo.

Sem dúvidas, a governança corporativa requer confiança por parte da empresa no corpo de profissionais que a orientará nos próximos anos e, de certa forma, isso requer flexibilidade quanto à visão de concentração de poder. Porém vale refletir que se trata de uma decisão ainda mais importante:

– Abrir mão do controle de maneira calculada sabendo que um corpo de profissionais externos está direcionando as melhores decisões, para, em longo prazo, vislumbrar uma empresa sólida e relevante no mercado através das gerações.

Ver além do óbvio, repensar estruturas organizacionais e não ter medo de mudanças, entendendo que grande parte delas começa por pequenas decisões diárias.

Delegar tarefas, repensar o ego e priorizar a profissionalização da gestão sobre os ganhos rápidos pode ser desafiador na prática, mas é crucial para garantir a longevidade da empresa. Sua empresa se compromete com essa tarefa?

Carlos Moreira – Há mais de 37 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria), CCO (Diretor Comercial e de Marketing). e Conselheiro Administrativo.

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