Artigo: Por uma política econômica inclusiva!
O Brasil é um país de potencial extraordinário. Sua vasta extensão territorial o posiciona como uma das nações mais ricas em recursos naturais do mundo, abrigando diversos biomas, entre eles, a Amazônia e a chamada Amazônia Azul, que corresponde ao mar territorial do país, com sua imensa biodiversidade.
Essa riqueza natural proporciona uma base sólida para o desenvolvimento bioeconômico, criando um ambiente favorável para inovações científicas e tecnológicas. Além disso, a imensa população brasileira, somada à alta disposição para o consumo, torna o mercado interno uma força de atração para investimentos, com potencial para alavancar a economia nacional.
Um ponto de destaque é a compatibilidade da população brasileira com as novas tecnologias. Historicamente, o Brasil tem demonstrado uma capacidade impressionante de rápida adaptação às inovações tecnológicas, como visto no uso massivo de smartphones, serviços financeiros digitais, e-commerce, e o crescente interesse pela inteligência artificial e automação.
Não por acaso, cientistas brasileiros estão frequentemente presentes nas equipes que desenvolvem importantes inovações globais, desempenhando papéis de destaque devido à criatividade latente e à capacidade de solução de problemas que os caracteriza. Esse ambiente favorável à inovação e ao consumo, somado aos recursos naturais pujantes, posiciona o Brasil como um destino atraente para investimentos internacionais em um cenário geopolítico em transformação.
Fenômenos como o “friendlyshoring“, em que indústrias buscam países ideologicamente alinhados, o “nearshoring”, que prioriza nações próximas dos principais mercados consumidores, e o “powershoring“, que beneficia países com fontes abundantes de energia renovável, fazem do Brasil uma peça central na nova configuração global de investimentos.
O país não apenas atende a esses requisitos, como também oferece uma posição geográfica estratégica, recursos energéticos renováveis em abundância e um ambiente ideológico estável, quando comparado a outros países emergentes. Contudo, o Brasil enfrenta contradições sociais profundas, que exigem um olhar atento para o desenvolvimento inclusivo. Os déficits em áreas fundamentais, como educação, saneamento básico, saúde, qualificação do mercado de trabalho e inovação tecnológica, revelam a necessidade urgente de investimentos públicos robustos, que podem – e devem – ser realizados em conjunto com a iniciativa privada.
Um desenvolvimento inclusivo exige políticas econômicas que estejam alinhadas com a superação dessas disparidades, garantindo que o crescimento econômico esteja acompanhado pela melhoria da qualidade de vida da população e pela criação de uma sociedade mais justa e equitativa.
Esses investimentos inclusivos devem, no entanto, ser contextualizados em um cenário macroeconômico que leve em consideração as particularidades do Brasil. Comparar o país com outras economias emergentes sem atentar para suas especificidades, como sua vasta riqueza natural, potencial de mercado e inovação, é inadequado. Como exemplo, sempre que se analisam as taxas de endividamento em relação ao PIB, o que realmente importa não é a taxa em si, mas sim a capacidade de rolagem dessa dívida ao longo do tempo.
O Brasil, com seus vastos recursos e potencial econômico, possui uma margem maior para sustentar níveis de endividamento mais elevados, desde que o ambiente econômico seja favorável ao crescimento e ao investimento. No entanto, as taxas de juros elevadas sufocam a livre iniciativa e desestimulam os investimentos, principalmente aqueles de natureza inclusiva, que são essenciais para reverter os déficits sociais.
O parque industrial brasileiro, que já sofre com a obsolescência, é ainda mais prejudicado por um ambiente de juros altos, o que mantém o Núcleo de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) em níveis baixos. O NUCI mede o quanto da capacidade produtiva de uma economia está sendo efetivamente utilizada. Quando está baixo, significa que a produção está aquém de seu potencial, refletindo uma economia desacelerada e um mercado de trabalho precarizado.
Juros mais baixos, por outro lado, facilitam a realização de investimentos que visam incluir socialmente as populações marginalizadas e revitalizar setores estratégicos da economia. No médio prazo, essa política levará a um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico e social.
A queda sustentada da inflação, a maior produtividade do mercado de trabalho e o aumento das inovações econômicas e sociais são apenas alguns dos benefícios que podem emergir desse processo. Além disso, uma maior inclusão econômica e social tende a reduzir a conflituosidade social, fortalecendo estruturas sociais sustentáveis, justas e inclusivas.
Portanto, uma política econômica inclusiva, focada em investimentos estratégicos em áreas-chave, pode transformar o Brasil em uma potência global, não apenas em termos econômicos, mas também como sociedade mais justa e igualitária.
O país, com sua combinação única de recursos naturais, população vibrante e disposição para a inovação, está pronto para desempenhar um papel de liderança em um mundo cada vez mais interconectado. Para isso, é necessário um ambiente econômico que favoreça a livre iniciativa e os valores sociais do trabalho, promova investimentos inclusivos e, acima de tudo, ofereça um caminho para o desenvolvimento sustentável e equitativo.
André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor, professor, ganhador do Prêmio Best Seller pelo livro “Caminho – a Beleza é Enxergar”, da Editora UICLAP (@andrenaves.def).