Artigo: Como criar um celeiro de Deep Techs no Brasil? 

Não é novidade que as deep techs têm crescido consideravelmente e prometido impulsionar a economia de países da América Latina. De acordo com o relatório ‘Deep Tech: The New Wave’ do Laboratório de Inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (IDB Lab), o Brasil ocupa a segunda posição no ranking com maior número de empresas focadas em deep techs. Essa área movimenta aproximadamente R$38 bilhões (US$8 bilhões) na região e tem potencial para crescer ainda mais. Além disso, a pesquisa ainda mostra que a América Latina tem um ecossistema de 340 startups do segmento deep tech, sendo 101 delas brasileiras.

Esses dados mostram que nosso Brasil tem potencial para se destacar ainda mais no setor, visto que existem alguns aspectos que favorecem o desenvolvimento de pesquisas e inovações, como a biodiversidade, instituições reconhecidas e volume de cientistas e pesquisas. Acredito também que haja uma motivação para solucionar os desafios sociais e ambientais complexos que o país enfrenta, como aqueles relacionados à saúde, sustentabilidade, economia, entre outras áreas.

Porém, para aproveitar esse cenário e criar um celeiro de deep techs no Brasil, é preciso atuar em alguns pontos estratégicos. Um deles é romper bolhas e demonstrar o potencial desse setor para atrair mais atores de inovação. E para que isso aconteça, é imprescindível que a comunicação e a articulação entre os principais agentes desse ecossistema estejam bem alinhados.

Ou seja, se o investidor é impactado por histórias brilhantes de algumas deep techs, sua percepção de risco pode mudar. Se mais cientistas virem a transferência de tecnologia e o empreendedorismo como um caminho viável, o grau de inovação das startups e empresas aumentará consideravelmente. Se mais NITs e universidades fecharem parcerias de sucesso com empresas e/ou governos, será muito mais fácil regulamentar os próximos acordos, construindo assim um ciclo virtuoso.

De acordo com o Movimento Deep Tech, idealizado pela Wylinka, organização sem fins lucrativos que transforma o conhecimento científico em soluções e negócios, são muitas frentes promissoras para entrar em ação com objetivo de construir um futuro de tecnologia, sustentabilidade e crescimento para nosso país. Para isso, é necessário desenvolver uma narrativa que facilite a comunicação e divulgue o potencial das deep techs. Um caminho promissor é   criar e aplicar instrumentos financeiros inovadores e específicos para essas startups; fomentar a cultura de empreendedorismo nas universidades; fomentar as compras públicas e as parcerias entre governos e startups; formar massa crítica para o desenvolvimento de deep techs nos ecossistemas brasileiros; criar infraestruturas compartilhadas para reduzir custo de desenvolvimento das deep techs; fomentar a colaboração entre universidades e ICTs para acelerar o desenvolvimento tecnológico, são alguns pontos importantes.

Ainda sobre diálogos e conexões, colaborações e parcerias duradouras são essenciais no desenvolvimento das deep techs e precisam ser incentivadas. É necessário promover encontros promissores que reúnam recursos e potencial. Ter parcerias duradouras entre empresas, cientistas, governos, investidores, universidades e outros atores é indispensável nesse processo de desenvolvimento. Acredito que podemos pensar em formas eficientes para que, de fato, o que é produzido rompa barreiras, vá para o mercado e tenha impacto na sociedade.

Por fim, as deep techs nos conduzem ao caminho do desenvolvimento social, econômico e ambiental do país, mas ainda é preciso construir uma narrativa que demonstre o real potencial desse setor, formando massa crítica e espaço para seu desenvolvimento. Permitir e estimular o desenvolvimento desse ecossistema beneficia toda a cadeia de negócios do Brasil, além de oferecer soluções de impacto para a própria população.

Ana Calçado é CEO e presidente da Wylinka, organização sem fins lucrativos que transforma o conhecimento científico em soluções e negócios que melhoram o dia a dia das pessoas e fomentam o desenvolvimento econômico, social e sustentável do Brasil. Pós graduada em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral, com estudos de pós graduação em Inovação pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT – professional education), mestre em Ciências de Alimentos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e graduada em Bioquímica pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Ana também é doutoranda pela USP em Administração e pesquisadora em Inovação e Gestão Tecnológica.

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