Liberdade de expressão é a arte de todo dia

Foto: Noeli Almeida

Na correria do cotidiano muitas cenas passam despercebidas aos olhos, a pressa rouba algumas das habilidades mais fantásticas existentes em todas as pessoas, entre elas, a capacidade de sentir e se comover com fatos simples da vida. Mas como não observar pessoas diferentes que mudam a rotina dos dias que muitas vezes são  enfadonhos?

Sorrisos nos faróis, caminhos desconhecidos que se unem pela representação mais antiga da nossa história, a arte. Todas as tardes e noites em cruzamentos do Centro da cidade, várias pessoas transformam as ruas em palcos ao ar livre. Malabares colorem o céu e trazem historias comoventes carregadas de sonhos.

Em um desses caminhos desenhados pela vida, o casal Rute Rocha e Fernando Gonzalez se encontrou, ela natural da capital de São Paulo se deparou com o amor que veio de longe, Gonzalez é de San Carlos de Bariloche na Argentina.

O artista saiu de casa há quatro anos e desde criança queria conhecer outros lugares e viajar pelo mundo levando alegria às pessoas, mas para ele, a decisão de deixar a família foi muito difícil. Eu fui conhecendo pessoas que viajavam e essa vontade foi crescendo, mas tem que ter muita coragem. Eu saí  e no caminho conheci pessoas que me ajudaram, aprendi a fazer malabarismo, artesanato que foi o que eu comecei a fazer primeiro.

Rute é formada em Gestão Ambiental, mas nunca exerceu a profissão. Para ela, a possibilidade de deixar o trabalho estressante na capital foi o que a motivou a colocar o pé na estrada. Eu morava em São Paulo na capital e trabalhava como assistente comercial, fui mandada embora de um trabalho que eu já exercia há onze anos, decidi me mudar para Minas Gerais, lá eu fiquei seis meses de férias. No terceiro mês, eu conheci o Fernando, ele fazia malabares e eu estava com dificuldade de encontrar emprego, porque lá é uma cidade pequena.

Diante das dificuldades, Rute começou a aprender a arte e trabalhar como malabarista. No começo eu tinha muita vergonha, ele entrava comigo no semáforo e eu tremia, isso foi durante uns três meses, depois eu vi que dava para sobreviver, conseguia pagar meu aluguel,  pagar a comida dos meus cachorros e do meu gato, pagava as contas, viajava de vez em quando , então eu falei, por que não? .

As viagens são planejadas pelo casal, primeiro é preciso recolher informações com amigos sobre o lugar, se é permitido trabalhar nos semáforos, condições de moradias e valores, que precisam ser acessíveis, afinal de contas o dinheiro não é muito, então é preciso saber como usá-lo. A gente tenta não ficar muito na rua, porque é perigoso mas as vezes as condições não ajudam. Então nós ficamos debaixo das marquises, nós colocamos papelão , cobertor e dormimos ali, mas as vezes nós conseguimos fazer dinheiro na cidade para pagar um hotel, tem lugares que são baratos, comenta Gonzalez.

O casal não para muito tempo em uma cidade, e quando decide seguir outro rumo, tenta segurar o dinheiro da passagem de ônibus. Para Gonzalez, o fato de ter que pegar carona pode oferecer riscos. Foram poucas vezes que nós pegamos carona, o tempo que ficamos na estrada podemos trabalhar no semáforo e fazemos o dinheiro da passagem. Pegar carona, eu acho um pouco perigoso, mas tem muita gente que faz isso.

A realidade é que muitos artistas de rua ainda sofrem preconceito social, para Gonzalez, existe diferença entre os artistas de rua e aqueles que simplesmente pedem dinheiro em locais públicos. Tem gente que compreende o nosso trabalho e tem gente que não, mas eu entendoeles também, porque tem pessoas que um dia aprenderam a fazer malabares mas vezes a pessoa está apegada a outra coisa. Tem pessoas que moram na rua e são consumidoras de crack ou alcoólatras e utilizam a ferramenta do malabares.

Tem artistas muito bons que utilizam a vida para viajar mesmo , mas tem pessoas que ficam queimando a nossa imagem, mas nem todos somos a mesma coisa, mas eu compreendo, eles não nos conhecem, temos que respeitar, diz Gonzalez

O destino mais esperado por Gonzalez é o caminho de casa, isso porque o casal está a caminho de San Carlos de Bariloche, onde Rute vai conhecer a família do companheiro .

 Para nós malabaristas quanto mais cidades nós passamos, mais progresso e sucesso nós temos. Porque se ficar  muito na mesma cidade, as pessoas cansam de ver a gente sempre no mesmo lugar, então temos que andar, não tem jeito, diz Rute

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