Em um evento em alusão ao Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, lembrado em 22 de julho, mas com uma programação que durou uma semana, na noite dessa quarta-feira (27), o Teatro Municipal Marina Karam Primak foi palco de representativas mostras de arte. A artista e performer autodidata, Vera Martins, abriu a exposição de telas subjetivas e intensas de significados, “Violência Sob a Delicadeza – Chicotadas”. Logo de início, ainda na calçada do teatro, um novo painel medindo 1,70m X 2,00m foi pintado com a colaboração de diversos artistas da cidade.
A artista falou da grande carga de representatividade e significados que a exposição tem para ela. “Primeiramente, para mim, este trabalho representa a parceria que eu tive com Curitiba. Fiz uma exposição individual no Museu Oscar Niemeyer (MON), em 2021 e, essa itinerância é um reconhecimento do trabalho que ocorreu lá (no MON).
A partir de então, abriu-se um espaço da produção da minha obra para ser realizada aqui, em Guarapuava. É muito gratificante, porque eu posso percorrer outros lugares, como já aconteceu, de eu apresentar a obra na Inglaterra, em Portugal, na Alemanha. Esse viés da minha produção, esse momento específico, permite a interação com o público e foi o que ocorreu aqui em Guarapuava, nos três dias que fiquei na cidade”, contou Vera.
Em se tratando da luta contra o feminicídio, Vera Martins pontuou que a exposição “Violência Sob a Delicadeza – Chicotadas”, não tem a intenção, de maneira alguma, de levar o público a pensar em violência ou fetiches. Para a artista, trabalhar com os “chicotes” que, ao mesmo tempo, são pincéis prontos para preencher uma tela em branco, leva as pessoas a pensarem na delicadeza e na candura do dia a dia. Conforme ressalta, a exposição é, também, um elemento educativo.
“Não são chicotadas no sentido de agressão, nem de fetiches. Eu falo que ‘Chicotadas’ é um momento de catarse, porque, antes das chicotadas (na tela) as pessoas desconstroem o suporte da pintura e, nesta desconstrução, que é quando os fios são amarrados em um tubo e se tornam pincéis, a partir de então, tudo muda, tudo se inverte. Deste instante em diante, vem o momento silencioso, seguido da explosão”, pontuou Vera.
Filha de imigrantes portugueses, a artista contou que sua arte vem da ancestralidade. À época, em Portugal, sua mãe cultivava linhaça, com muito cuidado e morosidade e fazia os fios, seguindo um ritual. Depois disso, sua avó trabalhava na tecelagem, transformando o que há pouco fora semente e planta, em tecido para lençóis.
“A minha arte, a minha obra, veio da minha vida, de uma memória ancestral da minha família que remonta há mais de cem anos. Minha mãe, em Portugal, plantava linhaça e fazia o fio. Minha avó tecia o lençol e, dessa desconstrução, algo novo se fazia. Hoje, com o fio, eu danço, eu faço uma performance. Eu não tenho uma formação acadêmica específica, a arte está em mim”, concluiu.