Quando dedicamos a uma série de televisão abrimos mão de nos dedicarmos a um livro, escritora Inês Miret
Formar leitores que tenham prazer pela leitura e gosto pelos livros. Este é um dos principais desafios apontados pelos especialistas que participam, em Curitiba, das mesas-redondas e palestras da 1ª Semana Internacional da Leitura, promovida pela Secretaria de Estado da Cultura com apoio da Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba.
Agentes especialistas em leitura vindos de todo o Brasil e de outros países, debateram, no auditório da Biblioteca, as soluções e os desafios para promover a leitura e a literatura. A mesa-redonda “Políticas públicas do livro, leitura, literatura e bibliotecas” contou com a contribuição do professor José Castilho Marques Neto, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Ele já foi secretário-executivo do Plano Nacional do Livro e Leitura e defende o fortalecimento de planos locais para que o acesso aos livros seja alcançado.
Para ele, é fundamental que além das políticas públicas que incentivem a leitura, este acesso seja entendido de uma forma mais ampla. “Quando estamos falando de acesso, não estamos falando apenas em dar o livro nas mãos da criança. Mais do que isso, quando você presenteia uma criança com um livro, você precisa ler com ela”, afirmou. Segundo ele, Brasil todo já compreendeu que não basta ter o livro na mão, é preciso o estímulo para que o leitor exista.
A mediação de leitura foi o tema dos debates da tarde do mesmo dia. Marta Morais da Costa, escritora e membro da Academia Paranaense de Letras, aposta no investimento da formação de mediadores como uma boa saída para conquistar mais leitores. “Pesquisas apontam que a fase em que as pessoas mais leem é a fase escolar. Depois que esta fase passa, que não são mais obrigados a ler pela escola, as pessoas deixam de ler. É necessário despertar esta necessidade pela leitura. Porque não é falta de tempo. Se fosse assim, as pessoas com mais de 60 anos seriam ávidas leitoras e não é o que as pesquisas mostram”, diz a escritora.
Para a especialista espanhola Inês Miret, os desafios brasileiros na conquista de novos leitores são muito semelhantes aos dos demais países. “O tempo é muito precioso e precisamos entender que quando dedicamos a uma série de televisão abrimos mão de nos dedicarmos a um livro, por exemplo. Eu creio que há um desafio internacional, compartilhado por culturas, países e línguas distintas que sem leitura não há construção de mundo. Acredito que o livro, a leitura e a literatura têm que existir. A TV, o rádio e a internet podem ser aliados da literatura, mas não a substituem”, afirma.
NA PRÁTICA
A plateia, formada por agentes, mediadores de leitura e outros profissionais e interessados na área, participa de todos os debates do evento, com intervenções e perguntas.
Alana Saiss é uma desses agentes e trabalha com a mediação de leitura em Curitiba, no bairro Tatuquara. Para ela, participar de eventos como este renovam o repertório e melhoram os resultados no trabalho. “Nosso trabalho é um trabalho de performance. Precisamos conquistar, renovar o nosso pensamento sempre”.
A fórmula mágica que faz com que um letrado vire um leitor não parece mesmo existir. Atento à mesa-redonda sobre políticas públicas, Norberto Heinz, escritor e membro do Conselho Estadual de Cultura, já aplica um método próprio na região de Guarapuava. Mediador de leitura e contador de histórias, Heinz ensina crianças a contar histórias e a produzir os próprios livros. Para ele, o exercício da contação ajuda as crianças a gostarem de livros. “Quando elas se inserem neste mundo, elas sentem que isso pertence a elas também, o que faz com que gostem e queiram ler”, diz Heinz.