Desde que me entendo por gente, o futebol tem sido um dos principais assuntos na maioria dos lugares que eu frequento. Com o passar do tempo, o surgimento da Internet e, mais tarde, das redes sociais online, ampliaram ainda mais estes bate-papos. Não que o nível dos debates tenha melhorado: muito pelo contrário, pois senso comum, que sempre imperou, está ainda mais evidente. Pode até ser impressão minha, mas os achismos tomaram conta das conversas de vez, ainda mais quando dois assuntos entram na pauta: Corinthians e arbitragem.
Na rodada do último meio de semana, no Campeonato Brasileiro, as arbitragens dos jogos Corinthians x Fluminense e Atlético-MG x Atlético-PR tomaram conta das conversas entre as pessoas em todos os lugares e se maximizaram nas redes sociais. O suposto complô para favorecer o time paulista, que abriu uma vantagem considerável na liderança sobre o Galo, foi defendido por unhas e dentes, não só pelos atleticanos, mas por todos os demais torcedores, os chamados Anti-corinthianos. Com os ânimos inflamados, não foi difícil encontrar quem passasse da suposição para a afirmação de uma armação para favorecer o Corinthians. Erros ainda mais grotescos, como no jogo entre Ponte Preta x Cruzeiro, no mesmo dia dos outros jogos, raramente foram citados. Ou seja, ninguém gosta dos erros de arbitragem, mas se eles favorecem o Corinthians, estes viram pecados mortais, pois, na cabeça de muitos indivíduos, estes foram premeditados e não os de outras equipes. Ou seja, mais uma vez o clubismo entra em cena superando qualquer observação mais racional. Nesta onda, grande parte da imprensa esportiva colocou ainda mais lenha na fogueira, como editoriais como: Corinthians é favorecido, sem nenhuma prova de que isso realmente tivesse acontecido. É claro que ninguém é inocente ao ponto de acreditar que esquemas não possam existir em nosso combalido futebol brasileiro, mas fazer acusações sem comprovações é, no mínimo (como dizia um candidato à presidência da República), leviano.
O fato do baixo nível das arbitragens brasileiras deixa qualquer insinuação ainda mais complicada. Como seria possível saber onde acaba o erro e onde começa a má intenção. Como mencionado acima, houve outros erros de arbitragem ainda mais graves na mesma rodada, mas quando o Corinthians está envolvido, tudo é visto com um olhar diferente, já partindo do pré-suposto que tudo está ligado a uma grande conspiração.
É o preço da fama. Pois para muitos veículos de comunicação, a palavra Corinthians é sinônimo de audiência (seja da forma que for). Se envolver polêmica, então, a audiência é ainda maior. Ou seja, são raríssimos os casos, no jornalismo esportivo atual, em que as informações são devidamente checadas.
É mais ou menos como aquela velha ideia: antes de mudar o mundo, devemos mudar a nós mesmos. Se realmente desejamos um futebol mais sério, mais competitivo, com menos erros de arbitragem, devemos, em primeiro lugar, adotar uma postura mais coerente, livre do clubismo. Isso vale muito para o jornalismo esportivo, que forma opinião de muitos, mas vale para cada um de nós, na medida em que, nas redes sociais, também nos expressamos.Independente de clube sejamos coerentes. Jogar a culpa de derrotas na arbitragem sempre é mais fácil. Está na hora de perceber que, nem sempre, o problema é do outro. Nós precisamos, de uma vez por todas, rever nossos conceitos ou seguiremos, por muito tempo ainda, levando gols da Alemanha.