Tecnologia e redes sociais aumentam riscos para crianças e adolescentes

De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil, uma pessoa comete suicídio a cada 46 minutos. O suicídio, ato o qual a pessoa tira a própria vida, ocupa a 4ª colocação nas causas de morte entre jovens de 15 aos 29 anos. Entre os homens nessa faixa etária, ocupa o 3º lugar e entre as mulheres, a 8ª colocação.

Outro índice preocupante é que o número de suicídio entre homens aumentou 28% na última década, considerando todos os países. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, a maior taxa de suicídio ocorre entre indígenas (15 casos por 100 mil habitantes). Entre pessoas do sexo masculino, os números são de 23 casos por 100 mil, e entre as mulheres, 7 casos por 100 mil habitantes.

No entanto, ainda mais triste e preocupante do que o ato de tirar a própria é incentivar a pessoa a praticar tal ato. Definitivamente, se trata de uma das atitudes mais cruéis que o ser humano pode praticar e que, infelizmente, tem acontecido com frequência e contra pessoas que muitas vezes não conseguem se defender: crianças e adolescentes. Qual o meio utilizado para ações tão cruéis e perversas? As redes sociais.

Recentemente tem circulado na internet, principalmente em vídeos no YouTube e no WhatsApp uma personagem de uma boneca assustadora, com olhos esbugalhados e pele clara, chamada de Momo. A personagem supostamente interrompe a exibição de vídeos infantis com mensagens assustadoras dizendo o que a criança deve fazer para se suicidar. É semelhante aos métodos do Jogo da Baleia Azul, que em 2017 incentivou jovens a cometerem suicídio, inclusive no Brasil, além de outros casos envolvendo pessoas má intencionadas que utilizam as redes sociais com esse tipo de finalidade.

Entretanto, é muito mais preocupante quando isso envolve jovens, principalmente crianças, que na maioria das vezes não possuem discernimento para compreender o que estão vendo. Considerando ainda que cada vez mais cedo as crianças estão tendo acesso às tecnologias e redes sociais, tudo isso facilita para que os jovens tenham contato com esse tipo de situação. A psicóloga Kelli Stocki afirma que a comunicação dos pais e responsáveis com as crianças é fundamental nesse aspecto. É cada vez mais necessário que os pais e responsáveis organizem e dediquem um tempo para conversar com seus filhos e ouvir o que eles têm a dizer. Ouvir sem julgamento e condenações, sobre qualquer tipo de assunto. Isso gera mais confiança e afeto, para que as crianças e adolescentes falem sobre algum assunto que talvez seja indesejável e, é claro, alertá-los, com uma linguagem específica e de acordo com a idade do jovem, sobre os perigos da internet, dando dicas sobre o que evitar e os cuidados que devem ser tomados, fala Kelli. A psicóloga também alerta que não é saudável para ninguém, muito menos para crianças, permanecerem muitas horas por dia conectada à internet. Algo importante de ser lembrado também é a quantidade de tempo que uma criança ou adolescente dedica-se às tecnologias. Não é saudável que se passe várias horar por dia focando em apenas uma atividade, e também é papel dos pais e responsáveis controlar o tempo de uso e incentivar a prática de outras atividades.

Para se ter uma ideia do quanto o uso, sem supervisão dos pais e responsáveis, da tecnologia e redes sociais por parte de crianças e adolescentes é cada vez mais perigoso, temos o exemplo do Japão, um dos países que mais reduziu os índices de suicídio na última década. Na contramão do restante das faixas etárias no país asiático, o único índice de suicídio que aumentou no país é entre crianças e adolescentes, atingindo o maior patamar em três décadas (250 jovens tiraram a própria vida em dois anos – 2016 e 2017 no Japão). E as armadilhas da internet também estão presentes nesse aumento da prática do suicídio em solo japonês. Para Kelli, informação é a melhor maneira de se prevenir. Informação é a melhor prevenção. Muitas vezes há envolvimento em situações de risco por falta de informação ou até mesmo curiosidade. Dessa forma, quanto mais o jovem for esclarecido diante desses conteúdos, melhor poderá lidar e evitar se envolver nesse tipo de situação, conclui.

 

GUARAPUAVA

Em Guarapuava, recentemente, um detento da 14ª Subdivisão supostamente teria se enforcado. Em Pitanga, também no mês de março, um homem matou a ex-esposa, atirou contra o enteado, e tentou cometer suicídio posteriormente. Em 2018, talvez o caso mais emblemático e que chocou todo o Estado, o ex-deputado estadual e federal do Paraná, Cesar Silvestri, tirou a própria vida em Curitiba. Transtornos mentais como a depressão colaboram para o aumento da prática do suicídio e, infelizmente, esses números também têm aumentado. Isso mostra que não devemos ficar atento somente com as crianças, mas sim com qualquer pessoa presente no nosso meio que demonstre algum tipo de dificuldade ou tristeza. O apoio e amparo de familiares e amigos é fundamental para que esses índices não aumentem ano após ano.

Psicóloga Kelli Stocki falou ao Jornal Extra Guarapuava sobre os cuidados que devem ser tomados pelos pais e responsáveis pelos jovens a respeito dos perigos da internet (Foto: Reprodução)
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