Artigo: Precisamos falar sobre asma grave no Sistema Único de Saúde

 

Doença comum, conhecida pelo principal sintoma de ‘falta de ar’, e que acomete cerca de 20 milhões de brasileiros: assim é a asma. Apesar de popularmente conhecida como “bronquite”, boa parte dos pacientes com asma enfrentam desafios na busca pelo diagnóstico correto e controle da doença, que se traduzem em aumento progressivo dos episódios de crises (chamadas também de exacerbações); e em um alto número de idas à emergência e hospitalizações, sendo a 4ª maior causa de internações no Sistema Único de Saúde (SUS).

Falando especialmente da forma mais grave da doença, que se manifesta por meio de sintomas frequentes, mesmo em uso de tratamento padrão otimizado, há um importante cenário a considerar. Cerca de 3 a 5% das pessoas com asma poderão desenvolver a forma grave da doença e, ainda que esses pacientes sejam minoria, apresentam um risco aumentado de idas constantes ao pronto-socorro, internações e até óbitos. Em média, pacientes com asma grave visitam as unidades de emergência 15x mais quando comparados aos pacientes com asma moderada.

No Brasil, aproximadamente 20 milhões de pessoas, incluindo crianças e adultos, vivem com asma, de acordo com o Ministério da Saúde. Embora haja uma melhora na compreensão da sociedade sobre a doença e os desafios enfrentados pelos pacientes com asma, ainda estamos aquém de contemplar totalmente as necessidades dos pacientes graves, que necessitam de um tratamento personalizado conforme o tipo de inflamação de sua doença.

No SUS, por exemplo, embora exista um protocolo robusto de tratamento para a doença, cerca de 17% dos pacientes com asma alérgica grave não contam com uma opção de tratamento mais individualizada para seu perfil. A introdução de novas opções terapêuticas tem o potencial de transformar o controle da asma grave, oferecendo alternativas para casos que não respondem aos tratamentos dito padrão com broncodilatadores e corticoide inalatório.

Felizmente, há uma oportunidade de mudar esse cenário. A Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde) está em processo de análise para inclusão de novos tratamentos para a asma grave no Sistema Único de Saúde, marcando um passo importante na melhoria do atendimento aos pacientes. Durante esse processo, é aberto uma oportunidade para a participação ativa de diferentes setores da sociedade, por meio de uma Consulta Pública.

Esse mecanismo, disponível a todos os cidadãos, permite que qualquer pessoa maior de 18 anos, assim como profissionais de saúde, instituições, associações de pacientes e cuidadores manifestem sua opinião sobre a relevância de incluir novos tratamentos no SUS. A consulta ocorre por meio de um formulário online, no site da Conitec, na plataforma Participa + Brasil, proporcionando que a população participe das decisões que afetam a saúde pública.

A evolução contínua do SUS e sua capacidade de integrar avanços científicos são vitais para garantir que pacientes com doenças crônicas, como a asma grave, tenham acesso a tratamentos de ponta. Afinal, com tantos tratamentos inovadores disponíveis, não é aceitável que continuemos perdendo vidas de brasileiros para uma doença que pode ser controlada e tratada.

Angela Honda é pneumologista, Diretora executiva e líder de Programas educacionais da Fundação ProAR

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Projeto da Unicentro produz etanol e biodiesel com resíduo da semente de seringueira

Pesquisa sobre biocombustível está entre as melhores inovações da América Latina

Uma pesquisa da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) foi considerada uma das mais inovadoras da América Latina. O projeto “Produção de etanol a partir do resíduo da semente de seringueira” teve duas patentes classificadas entre as dez melhores do Concurso Innovación Verde, promovido pela Associação Interamericana da Propriedade Intelectual (ASIPI).

“Foi algo bem interessante para o nosso grupo de pesquisa e a gente quer continuar desenvolvendo mais pesquisas nessa área. É sempre bom ter esse reconhecimento”, comentou o coordenador da pesquisa, professor André Lazarin Gallina, do Departamento de Química e do Programa de Pós-Graduação em Bioenergia da Unicentro.

O projeto, que ocorre desde 2019 em parceria com o Câmpus de Realeza da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), contribui com análises químicas e testes experimentais.

Para a professora Fernanda Oliveira Lima, integrante da equipe da UFFS, a parceria entre a UFFS e a Unicentro é essencial para o avanço do projeto. “Esse trabalho colaborativo permitiu que recebêssemos reconhecimento e financiamento para ampliação. Com isso, o projeto se destaca ainda mais na valorização de resíduos agroindustriais e na promoção da sustentabilidade na produção de biocombustíveis”, destacou a professora.

A proposta de pesquisa surgiu quando a empresa Kaiser Agro buscou a ajuda da Unicentro para achar uma solução para a destinação de resíduos produzidos em suas atividades no ramo de conservação de solo e preservação de florestas nativas. Segundo gestor da empresa, Fábio Tonus, no plantio da seringueira, as sementes acabam não tendo utilidade para os produtores.

“Simplesmente a árvore produzia as sementes, que caíam no solo e ali elas apodreciam. A gente observou a necessidade de fazer um melhor aproveitamento dessa semente, até para poder gerar recurso tanto para o proprietário que plantou a árvore, como para o próprio seringueiro que trabalha extraindo látex”, contextualiza.

Os pesquisadores perceberam que as sementes poderiam virar insumo para a produção de biocombustíveis, que são menos poluentes do que os combustíveis convencionais. “Em um primeiro momento a gente se propôs a fazer três projetos: um deles era para a produção de etanol, o outro para a produção de biodiesel e também um para a produção de antioxidantes”, relatou André Gallina.

As etapas de produção dos biocombustíveis começam com o recebimento da matéria-prima enviada pela empresa Kaiser Agro. Depois, a equipe universitária descasca as sementes de seringueira, extrai o óleo para produzir biodiesel e o que sobra de carboidrato, vira etanol através de um processo de segunda geração. “Fazemos, assim, dois biocombustíveis de uma semente só”, resumiu Gallina.

Entre as várias frentes dessa pesquisa, durante o seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Bioenergia da Unicentro, o químico Giovano Tochetto focou nos carboidratos da semente de seringueira para produção de etanol, utilizando todo o potencial desse insumo.

“A semente de seringueira não é usada como alimento, ao contrário da cana-de-açúcar e do milho, sendo que o uso dessas matérias-primas alimentícias para produção de etanol cria conflitos de mercado e aumenta o custo do combustível. Como a semente de seringueira é efetivamente um resíduo, ou seja, de baixo custo, o preço do etanol produzido será reduzido”, explicou o pesquisador.

Cada 5,7 quilos de sementes de seringueira são transformados em um litro de etanol. “Dentre as fontes de energia renováveis, o etanol é especialmente interessante, pois é capaz de substituir a gasolina por completo em motores de combustão interna, muito usados em carros, com poucas mudanças nas características dos motores”, salienta o pesquisador.

Em outra pesquisa, dentro do projeto, a partir do óleo extraído da semente de seringueira, cada 3,29 quilos da matéria-prima tem capacidade de produzir um litro de biodiesel. O combustível pode substituir o óleo diesel comum, utilizado em caminhões, ônibus e outros veículos.

“Ainda existem muitas outras matérias-primas para serem descobertas, muitos métodos para produção a serem desenvolvidos e muitos métodos e processos existentes a serem melhorados”, finalizou Giovano.