Hora é chuva demais, hora é seca demais. Os últimos anos para o agronegócio brasileiro tem sido um espelho das mudanças climáticas as quais o mundo está passando por conta principalmente do aquecimento global. Este é um fenômeno resultante do aumento das temperaturas na terra devido à crescente concentração de gases de efeito estufa. E questões relacionadas à atividade humana e indústria, como a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento.
Neste cenário de eventos climáticos extremos e que podem impactar significativamente a produção de alimentos, o setor está cada vez mais vigilante. Secas prolongadas, inundações repentinas e ondas de calor intensas representam apenas algumas das ameaças que os agricultores podem ter que enfrentar cada vez mais daqui para a frente. Prova disso, por exemplo, é que de acordo com estudo publicado na revista Nature Climate Change, aproximadamente 28% das áreas agricultáveis do Centro-Oeste brasileiro deixaram de estar no padrão climático ideal para o plantio de soja e milho, e projeta-se que, se não forem adotadas medidas sustentáveis, esse número chegue a 50% até 2030 e 74% em 2060.
O ano de 2023 e o início de 2024 têm revelado exatamente isso. As secas, por exemplo, causaram sérios prejuízos ao crescimento das culturas e reduziram os rendimentos das colheitas na região central do País. Agricultores em áreas propensas à seca muitas vezes enfrentam desafios adicionais na gestão dos recursos hídricos, buscando soluções como sistemas de irrigação mais eficientes ou o cultivo de variedades de plantas mais resistentes à situação de estresse.
Por outro lado, as inundações repentinas ocorridas no Sul resultaram em perdas catastróficas de colheitas e danos à infraestrutura agrícola. As enxurradas em campos de cultivo podem levar ainda à erosão do solo, à perda de nutrientes, prejudicando a produtividade agrícola a longo prazo.
Diante desses desafios, os agricultores estão adotando uma série de medidas para mitigar os impactos das mudanças climáticas em suas operações. Isso inclui a adoção de práticas agrícolas altamente planejadas, o investimento em tecnologias de monitoramento climático, o desenvolvimento de variedades de culturas mais resistentes como fez a Embrapa recentemente e a diversificação das atividades agrícolas para reduzir o risco.
Ou seja, ao mesmo tempo em que é castigado pelas mudanças climáticas, o agronegócio tem à frente e nas mãos da classe produtora, indústria agrícola e profissionais, uma grande oportunidade de contribuir positivamente para frear os efeitos. Vale destacar o manejo agroecológico, a rotação de culturas e sistemas agroflorestais, que não só ajudam a mitigar os impactos negativos, como também ajudam a reduzir a emissão de gases de efeito estufa.
Além disso, podemos detalhar que a adoção de novas ferramentas, como sensores, drones e análise de dados pode melhorar a eficiência no uso de recursos como água, fertilizantes e defensivos. À primeira vista isso pode ser considerado como um gasto. Mas à medida que esses reflexos climáticos vão avançando e que o produtor consegue enxergar no campo e principalmente nos resultados, isso passa a ser um investimento.
Outra frente que pode ser explorada em larga escala é a agricultura regenerativa, propõem recuperar ecossistemas, como terras degradadas por exemplo, utilizando do solo para elevar o sequestro de carbono e também devolvendo recursos como água e minerais na recuperação da biodiversidade. Essa modalidade também tem grande impacto no auxílio a diminuição dos efeitos adversos do clima.
Podemos perceber que o setor reconhece a que está comprometido em encontrar e em colocar em prática cada vez mais soluções inovadoras e sustentáveis para garantir a segurança alimentar e a resiliência do agro brasileiro. Avançar, ou não? Adotar, ou não? Investir ou não? São dúvidas que ficam. A questão é que as alterações são fatos, e o que se puder adotar para minimizar isso para a sociedade e para a atividade, sem dúvida deve passar a ser estratégia dentro das propriedades. Não é um caminho fácil, mas é necessário para que haja um equilíbrio e para que a atividade consiga ter continuidade e destacando o País como celeiro da produção mundial de alimentos.
Leandro Viegas é administrador de Empresas e bacharel em Direito; CEO da Sell Agro