Luto, memória e pertencimento. É assim que Tatiana Lazzarotto define os temas abordados no romance “Quando as árvores morrem”, publicado pela Editora Claraboia e lançado no mês de abril. A escritora se formou em Jornalismo e em Letras-Português em 2006 e 2007, respectivamente, pela Unicentro e, com a obra, marcou sua estreia na literatura de ficção.
A história entrelaça o presente do luto, depois da notícia da morte do pai da personagem, com as lembranças que ela viveu com a família.
“Esse pai é apresentado somente pelo olhar da filha, desconstruído a partir dela já adulta e a partir da morte também. Tem um tema que perpassa todo o livro que é a imaginação, não só pela profissão do pai, mas pelas memórias que ela vai costurando ao longo do enredo”, explicou Tatiana.
O romance foi um dos vencedores do edital ProAC de obras de ficção, promovido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. Tatiana conta que a ideia do livro a acompanha desde muito tempo, se concretizando, agora, também como uma experiência ficcional a partir de uma vivência de luto.
Isso porque, da mesma forma que a personagem da obra, a escritora também perdeu o pai, que durante seu percurso de vida quebrou recordes nacionais como Papai Noel. Nessa linha, o romance também busca explorar um personagem que tem pouca visibilidade na literatura.
“Eu já escrevia sobre o meu pai, eu já catalogava memórias. Então, a partir do momento em que eu ganhei o ProAC, eu consegui estruturar de forma mais metódica o meu romance. Ao longo de 2021, eu fui escrevendo esse livro, reescrevendo e me inscrevendo nessa história e na história dessa protagonista que perde seu pai e que tem muito de mim e também muito das pessoas que perderam alguém nessa pandemia”, contou.
Tatiana contou que a escrita sempre fez parte da sua caminhada e que a publicação de um livro é um sonho antigo,
“Quando as árvores morrem” se torna ainda mais especial por ser inspirado na própria vivência com o pai. “Eu queria muito falar do luto da perda paterna pelo olhar de filhas mulheres. Então, essa foi uma das motivações, foi algo que eu defendi no edital porque eu acho que a gente precisava de obras assim.
A outra motivação é que o meu pai foi, realmente, uma pessoa bastante peculiar. Ele tem histórias muito engraçadas, comoventes e singulares. Esse livro é a oportunidade que eu tive também de apresentar o meu pai às pessoas não só a quem me conhece, mas a todo mundo nesse vasto terreno da literatura”.
Entre as influências que Tatiana carrega na escrita estão nomes como Gabriel García Márques; Conceição Evaristo; Ana Martins Marques; Rosa Montero e Chimamanda Adichie. Inspirada por movimentos que a estimularam a ler mais obras escritas por mulheres, a autora também participa de clubes coletivos literários de mulheres. “Ler mulheres diversas me ajuda a contar histórias dessa forma, entender formas diferentes de contar essa história e escapar de histórias únicas. Acho que é essa minha grande influência”, relatou.
Ainda sobre a participação feminina na literatura, Tatiana ressalta a disparidade de obras publicadas por homens e mulheres; o questionamento sobre quem são essas mulheres que escrevem – de onde são, a que classe social pertencem, qual a sua orientação sexual; e quais motivos impedem que as mulheres escrevam e publiquem seus livros.
“Quando eu penso na escrita produzida por mulheres, eu acho que, para além das publicações, do número de mulheres que chegam a publicar, a gente tem que pensar que mulheres são essas, que mulheres têm acesso a isso e também a questão que faz muitas mulheres não escreverem ou guardarem seus escritos”.
Sobre a concretização da publicação do livro, Tatiana comemora a oportunidade de apresentar a obra às pessoas.
“Para todo mundo que escreve, ver o seu livro publicado, colocar seu livro na estante é algo muito emocionante. É muito emocionante. É emocionante também falar sobre isso na Unicentro, que foi a universidade que me formou duas vezes, e que é o meu primeiro espaço de formação profissional e construção pessoal”, finalizalou