Diferente do que se imagina, a mulher não precisa ser agredida fisicamente para estar em uma relação violenta
A última edição do programa “Big Brother Brasil” levantou a questão da violência psicológica e da agressão contra a mulher com o casal Marcos e Emilly. O médico acabou eliminado do programa depois dos dois terem protagonizado diversas brigas, a mais chocante aconteceu no final de uma festa, quando Marcos encurralou a moça em um canto da sala e colocou o dedo na cara dela enquanto gritava.
Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), uma em cada três mulheres é vítima de violência no mundo. E esta violência chega a ser classificada entre: física, sexual, moral e psicológica. Por ser subjetiva e de difícil identificação, a violência psicológica, muitas vezes é negligenciada até pela própria vítima, pois vem mascarada por ciúmes, controle, humilhações, ironias e ofensas.
“A violência psicológica é aquela violência que causa à mulher insegurança, medo, abala a estrutura psicológica dela, abala quem ela é. Ela começa a se sentir insatisfeita, diminuída e humilhada”, explica a delegada Amanda Macedo Ribeiro, da 14ª SDP Delegacia da Mulher de Guarapuava.
De acordo com a delegada, o imaginário comum é de que os crimes de violência contra mulher ocorram em episódios isolados. Mas isso não é verdade. “Geralmente, quando a mulher vem à prestar queixa, ela está sofrendo violência à muito tempo. Ela chega aqui quando já chegou no limite da situação, já foi ameaçada, humilhada. É muito raro que o homem só agrida a mulher fisicamente. A violência psicológica sempre antecede à física”, ressalta a delegada.
O principal dano da violência psicológica é a perda da autoestima, com todas as consequências que ela causa. E o abuso pode chegar à um limite em que a própria mulher não tem consciência de que ela se encontra em uma relação violenta. “Nós mulheres temos muita dificuldade em enxergar um abuso psicológico quando é com a gente. Quando é com uma amiga, nós sabemos, damos conselhos. Mas quando é a nossa relação, a gente inventa desculpas e tenta justificar o comportamento do agressor. E claro, há também o componente de amor, porque a pessoa que faz isso com você é com quem você nutriu um sentimento, construiu uma história”, diz Amanda.
A principal medida da Lei Maria da Penha à respeito da violência psicológica é a ordem de restrição, o afastamento do agressor. “Mas infelizmente é muito comum que a vítima não queira, pois quando ela nos procura ela não sabe desse afastamento e quando fica sabendo, acaba retrocedendo. Muitas vezes a mulher não quer uma separação, ela apenas quer que a violência cesse”, afirma a delegada.
Portanto, a primeira atitude a ser tomada diante da violência psicológica é a mulher ter consciência e reconhecer que está em uma relação violenta, reconhecer que está sendo agredida, e procurar ajuda. Neste caso, a separação pode ser inevitável.
Segundo definição da OMS, a violência psicológica é entendida como:
“Qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação”.
Para informações sobre a Lei Maria da Penha, que criminaliza a violência doméstica em todas as suas manifestações, ou se quiser fazer uma denúncia, ligue para a Central de Atendimento à Mulher no número 180.