Bruna Spitzner: “Fui eleita defendendo bandeiras progressistas e continuarei defendendo durante todo o mandato”

Bruna Spitzner, que também é procuradora da Mulher, assumiu, recentemente, a coordenadoria da Aliança Nacional LGBTI+ em Guarapuava, uma das mais importantes e conceituadas entidades na luta pelos direitos civis no Brasil. Para sabermos um pouco mais, a vereadora falou à nossa reportagem sobre esse novo desafio; confira

Extra – A senhora aceitou, recentemente, o convite da Aliança Nacional LGBTI+ para ser Coordenadora Regional. O que isso representa para o seu mandato, como defensora das minorias, e para a comunidade LGBTI+ de Guarapuava?

Bruna: A defesa da diversidade esteve presente em toda a minha história e eu levantei essa bandeira de maneira muito incisiva durante a minha campanha. Quando eu recebi o convite para integrar a Aliança, fiquei muito honrada porque foi uma comprovação de que estou apta a defender estas pautas não só em Guarapuava, mas na região.

É um tema urgente, que tem pouco espaço no município, o que marginaliza e exclui este público. Por tudo isso, entendi que era uma obrigação assumir esse desafio e ser porta-voz da comunidade LGBTI+.

Extra – Essa importante organização, assim como muitas outras, que luta diariamente por igualdade e respeito, muitas vezes, é vítima, também, de preconceito. A senhora não teme ser, igualmente, discriminada por parte da sociedade, como, por exemplo, dos setores religiosos? E o seu eleitor, aquele mais conservador?

Bruna: Fui eleita defendendo bandeiras progressistas e continuarei defendendo durante todo o mandato. Enquanto grupos sociais não se pronunciarem por medo, a sociedade não avançará. Isso também vale para a questão da Aliança. Respeito precisa ser o fio condutor de qualquer relação e, aos poucos, sei que atingiremos isso.

Se normalizarmos o debate destes assuntos, assim como fizemos com a pauta das mulheres, uma hora a sociedade entenderá que a urgência da pauta LGBTI+: sobrevivência e dignidade. Todo ser humano merece isso. No país que mais mata membros da comunidade no mundo, estar em um espaço de poder e ser omisso é ser conivente.

Extra – O diretor presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, que mora em Curitiba, recebeu ameaças um dia depois das eleições municipais de 2020. Vale lembrar que é a quarta vez que o dirigente recebe este tipo de ameaça. Em que grau preocupa a senhora, como representante da entidade em Guarapuava, essa intolerância tão exacerbada? E como pretende trabalhar isso junto à população guarapuavana?

Bruna: O Toni é um exemplo de militância para o país por ter a coragem de levantar uma bandeira que era ainda mais polêmica há 20, 30 anos atrás. O fato dele, ou qualquer outra pessoa ser ameaça simplesmente por ser quem é, é motivo suficiente para lutarmos contra isso.

Em um momento em que a intolerância permeia diversos campos da sociedade, é preciso dar todo o apoio para quem está na ponta, quem sofre violência, para quem corre risco de vida. P

retendo auxiliar a Aliança sendo uma ponte entre as pautas que eles têm e o poder legislativo e executivo. Além de conscientizar nossa população, também precisamos normalizar esse assunto entre os líderes.

Extra – Durante sua campanha, a senhora se colocou em defesa dos chamados grupos minoritários, que, geralmente, ficam à margem das políticas públicas. Na prática, como vai funcionar essa parceria com a Aliança em função desses grupos?

Bruna: A comunidade LGBTI+ é apenas um dos vários grupos minoritários que eu pretendo trabalhar. A própria causa das mulheres integra um grupo minoritário quando o assunto é políticas públicas. Tem a questão dos indígenas também, por exemplo. Dos idosos, enfim.

Mas neste recorte da Aliança, a ideia é que eles nos tragam as pautas que estão sendo alinhadas a nível de Brasil para que a gente possa fazer as adaptações pertinentes no município, principalmente quanto ao combate ao preconceito e a segurança. Não é porque as pessoas não escutam falar que estes problemas não existem.

Extra – A Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil assinou um convênio de cooperação com a Aliança Nacional. Juntas, as entidades apoiam uma missão compartilhada em promover as ações LGBTI+ inclusivas e eventos educacionais no Brasil.

Para muitos ativistas, isso significa um marco de união entre as duas entidades que juntas vão fazer ainda mais por uma sociedade mais igualitária e sem preconceitos. Como essa parceria, em Guarapuava, serviria para promover a diversidade entre as empresas, organizações e poder público, promovendo um maior nível de inclusão de LGBTI+ em todas as instâncias.

Bruna: Sem dúvidas. Este convênio de cooperação é recente, então as coordenações aguardam uma orientação da Aliança para alinharmos como esse trabalho realmente atingirá os municípios. Mas é certo de que a ideia é promover ações para além da questão da sobrevivência. Gays, lésbicas, intersexo, transsexuais… estas pessoas não querem apenas sobreviver. Elas querem ter condições que proporcionem uma vida digna.

Extra – Joe Biden propõe sanção econômica a nações que desrespeitarem a população LGBTI+. Como a senhora avalia essa questão? Como regionalizar essa proposição?

Bruna: Para falar em regionalização é necessário, antes, falar em nacionalização. Temos um Governo Federal que não demonstra preocupação com a comunidade LGBTI+, muito pelo contrário. Isso, infelizmente, acaba influenciando outros líderes, que assumem a mesma posição. O recado da maior nação do mundo é um tapa de luva para países que adotam discursos ultraconservadores.

Há espaço para todos que prezarem pelo direito básico de qualquer ser humano: o respeito. A nível municipal não conseguimos trabalhar restrições de maneira tão incisiva, mas conseguimos, sem dúvida, garantir o cumprimento e a rigorosidade da lei em respeito a essa população que já sofre tanto.

 

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