“A situação é mais crítica que no ano passado”, diz Aldo Bona sobre a Unicentro

Estado de greve tornou-se uma palavra recorrente nos noticiários e, na última segunda-feira (27), vigorou novamente no Paraná. O motivo: falta de recurso que gera insatisfação. Em meio ao caos, o reitor da Unicentro, Aldo Nelson Bona, conversou com a equipe do Extra e falou, além deste tema, sobre outras questões polêmicas que, volte e meia, circundam a universidade, como assistência estudantil, conversação com o Governo do Estado, Praça JK, possível candidatura a vice prefeito e outros projetos futuros. Confira na matéria exclusiva a seguir:

JORNAL EXTRA – Quais as principais conquistas dos últimos anos, referente ao período em que está frente à reitoria da Unicentro?

ALDO NELSON BONA – Temos um conjunto de questões a comemorar. Mas o principal elemento de destaque neste período é o crescimento nos índices institucionais, como do Ministério da Educação e outros rankings de avaliação. Até 2012 estávamos na 47a posição entre as melhores universidades do país e no ano passado fechamos a avaliação na 25a posição. Este crescimento é reflexo de tudo que conquistamos neste período, como o processo de qualificação docente institucional; investimentos em infraestrutura e funcionamento da universidade; implantação de novos mestrados e doutorados e aperfeiçoamento do quadro de agentes universitários, ou seja, há um conjunto de fatores que dão base a este resultado.

JORNAL EXTRA – Mas como nem tudo são flores, no ano passado, devido a falha no repasse do governo, houve atraso nas bolsas de estagiários. E neste ano, como está essa situação?

ALDO – O orçamento global cresceu, mas a situação orçamentária do custeio – de onde sai o pagamento de estagiários da universidade – agravou-se. Ou seja, essa situação é mais crítica que no ano passado. Tanto é que em 2016 houve corte de 50% do montante de estagiários que tínhamos até então. É claro que a universidade também fez um processo seletivo para contratação de 97 servidores temporários justamente para suprir as demandas. Quanto aos estagiários que ainda temos, todos estão recebendo em dia e as pendências do ano passado foram todas resolvidas. Porém houve cortes, visto que estamos operando com muitas dificuldades.

JORNAL EXTRA – Você diz que a situação orçamentária do custeio agravou-se, mas o orçamento global cresceu. Em suma, como estão as contas da Unicentro?

ALDO – Estamos operando com muitas dificuldades. Há um conjunto de fornecedores de contratos públicos sem pagamento; suspendemos vários programas institucionais, como o subsídio alimentação, os programas de bolsas, recursos de verbas de departamento e apoio à pós graduação e, além disso, 25% dos contratos terceirizados foram extintos, ou seja, suspendemos diversas ações fundamentais por absoluta falta de recurso. E, mesmo com os cortes, a universidade terminará o ano com um déficit de R$ 1,8 milhão no custeio.

JORNAL EXTRA – O problema não se limita a Unicentro, sendo um agravante em todo o Paraná. Nesse sentido, como estão as conversações com o Governo do Estado?

ALDO – Temos nos articulado com todos os reitores a partir da APIESP [Associação Paranaense das Instituições de Ensino Superior Público], buscando conversar com o governo numa tentativa de solucionar esse impasse. Houveram conversas com a Secretaria de Fazenda, que não nos atendeu e isso nos levou a Secretaria da Casa Civil e a Secretaria de Gabinete do Governador. Após, conseguimos que o assunto fosse retomado com a Secretaria de Fazenda, mas não foi produtiva no sentido de resolver os problemas. Conseguimos apenas que o déficit, que era de mais de R$ 3 milhões, reduzisse para R$ 1,8 milhão. Agora articulamos uma reunião com o governador para que haja uma interferência. Esperamos solucionar o problema do custeio. O orçamento, de fato, cresceu no sentido de correções salariais e data-base implantada, tudo isso representa um crescimento global na verba institucional, mas na fatia do custeio, este orçamento tem diminuído. A Secretaria da Fazenda, por sua vez, afirma que não pode ir além do que autorizou, devido aos problemas nacionais de recursos. Então a nossa estratégia de diálogo com o governador é uma ação política, porque tecnicamente a questão não avança mais.

JORNAL EXTRA – E por falar em problemas de custeio, um dos principais alvos das reivindicações dos estudantes é o restaurante universitário. Como fica essa questão?

ALDO – É algo que trabalhamos. No caso do Santa Cruz este espaço ainda não está em funcionamento. Ele foi desativado porque a empresa não conseguiu manter os valores combinados. Então a universidade conseguiu os recursos para o processo licitatório da obra, abriu esse processo e deu deserto. Assim a transferência de orçamento passou para um ano seguinte, quando conseguimos contratar uma empresa. Hoje a obra está em processo de finalização. Assim nós pretendemos ainda em 2016 ter este espaço novamente em funcionamento.

JORNAL EXTRA – Enquanto isso o subsídio de alimentação foi cortado. Como a universidade está trabalhando a relação de assistência estudantil?

ALDO – Nós evoluímos em alguns âmbitos, mas nem tanto em outros, particularmente em razão de restrições orçamentárias. Não conseguimos, neste ano devido a cortes de custeio, lançar o programa de subsídio alimentação, que era algo implantando na universidade e fizemos funcionar por três anos. Por outro lado instalamos um setor de apoio ao estudante, que vem de forma articulada discutindo com a comunidade acadêmica e preparando um caminho que, uma vez estruturado, necessita apenas de recursos para execução. Além disso, aderimos ao SISU, até porque abre possibilidades de a universidade receber recursos federais para assistência. Então há uma série de ações que estamos desenvolvendo no sentido de propiciar assistência ao alunos. Ainda, estamos na eminência de lançar um edital piloto de vagas para moradia estudantil, que deverá sair neste ano. Ou seja, temos um conjunto de ações para a política estudantil, mas que ainda estão aquém do que gostaríamos de desenvolver, devido a falta de recursos.

JORNAL EXTRA – O SISU, que é um programa Federal, abre possibilidades de recursos além do estado. Mas o país vive um momento conturbado em relação a esse novo governo. Na sua opinião, o presidente interino Michel Temer pode ser bom para Unicentro?

ALDO – Não muda muito, porque o custeio da universidade é só do governo estadual. Embora estejamos brigando para que o governo federal nos ajude no custeio. O que houve foi alguma mudança no sentido de rever cortes que já estavam decretados pela administração anterior, mas a princípio nenhuma solução foi anunciada, a exemplo do PIBID. Mas, em termos práticos às universidades, a mudança de governo não tem implicação da gestão orçamentária.

JORNAL EXTRA – Uma das propostas para sua reeleição era descentralizar a gestão dos campi avançados, como a unidade de Laranjeiras do Sul, os convertendo em campi independentes, a exemplo das unidades de Irati, do Cedeteg e do Santa Cruz. Mas, em meio aos problemas orçamentários, isso será possível?

ALDO – Nós temos um compromisso de que os campi avançados possam transformar-se em campus avançado, porque é importante para a consolidação de ações da Unicentro nessas regiões e para o desenvolvimento das cidades que abrangem esses campi, a exemplo do grande crescimento de Guarapuava e Irati com a chegada dessa descentralização. Agora,  isso significa dizer que o Governo do Estado deveria assumir plenamente os custos deste processo. Mas como reiterado, vivemos um momento difícil. Então devemos melhorar nosso orçamento para dar conta do que já temos para, no momento adequado, aumentar nossa universidade.

JORNAL EXTRA – E por falar em região, como está a relação da Unicentro com a comunidade?

ALDO – Eu diria que vai bem, numa crescente. Embora esteja aquém do que deveria. Nós temos por objetivo justamente impulsionar a universidade. Eu não posso achar que algo está suficientemente bom, porque há tendência para acomodação. Então sempre penso que a relação poderia ser melhor. A Unicentro poderia estar mais presente na universidade, fazendo com a extensão seja um braço firme na universidade e contribuindo ainda mais na região.

JORNAL EXTRA – Agora falando na expectativa em relação a nova audiência com o Comutra no dia 30 de junho, a respeito de a Unicentro administrar a praça JK. Se esse projeto passar, como a Unicentro irá buscar recursos para manutenção?

ALDO – A JK é uma praça cuja utilização não é plena pela comunidade acadêmica ou do entorno e, quando propomos incorporar essa praça, foi para torna-lá um espaço vivo. E sim, isso demanda investimentos. Apesar de tudo, toda discussão está sendo feito entre a Universidade e a Prefeitura, no sentido de que o poder municipal redimensione a praça e passe a gestão e cuidados a nós. Nesse sentido os investimentos iniciais seriam todos do poder público municipal. A manutenção depois, como conservação, manutenção e atividades, seriam da universidade. O prefeito deixou claro que apoiariam a ideia e faria uma programação orçamentária para que a ideia fosse executada desde que houvesse viabilidade no projeto e a plena aceitação da comunidade.

EXTRA GUARAPUAVA – Na última gestão, a prefeitura e a universidade mantiveram grande parceria e isso, há dois meses do pleito eleitoral, cujas especulações estão acentuadas, traz rumores de que o senhor será vice do atual prefeito. O que tem a dizer sobre isso?

ALDO BONA – Pode ter a certeza de que são boatos que não se sustentam. Não há pretensão de minha parte nesse sentido, como não há da parte do atual prefeito. Nós discutimos parcerias de como a universidade pode cooperar com o município e o município com a universidade. E isso me torna próximo ao Cesar e conhecedor de todas as ações feitas pela gestão municipal. Mas de forma alguma me coloco na pretensão de ser vice, até porque se tudo caminhasse nessa direção, eu já deveria estar desincompatibilizado da função de reitor. Então deixo claro que não há pretensão de candidatura.

EXTRA GUARAPUAVA – E futuramente, o senhor pensa em atuar no cenário político, além da reitoria da Unicentro?

ALDO – Nunca na minha vida coloquei ambições pessoais muito definidas a ponto de tornar-se obsessão. Mas também nunca me esquivei de situação de oportunidades que se apresentam. Por ter um tempo de vivência interna de política institucional e em razão disso, ter cada vez mais o conhecimento das possibilidades de atuação no campo político externo e do quanto posso contribuir para o desenvolvimento das instituições, eu estaria mentindo se dissesse que definitivamente me recuso a qualquer atuação. Eu não me recuso. Se alguma oportunidade adiante houver e se ela for serena, sem amarras, e que possibilite um trabalho de política série e em defesa da educação, eu não diria que vou me esquivar, desde que possa ser um instrumento de desenvolvimento. Mas não há pretensão ou obsessão nesse sentido.

 

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