O perigo dentro de casa

Tampas, geladeiras, tijolos e o que possamos imaginar pode se tornar um criadouro para o Aedes Aegypti

Dona Maria cuida de sua casa com o maior capricho, limpa todos os cantinhos, cuida do seu jardim e por isso não se preocupa com possíveis focos do mosquito da dengue. A vizinha dela, essa já é outra história, sempre deixa vasos de plantas cheios d’água, tampas de garrafa, etc. Quando o pessoal da vigilância sanitária visitou a residência da vizinha, descobriu larvas do aedes aegypti, a equipe cumpriu o protocolo e correu para verificar as casas em um raio de 300 metros da residência. A vizinha, dona Maria, foi a primeira a ser procurada, e até deixou que os agentes entrassem, mas não tinha dúvidas de que sua casa estaria livre do mosquito.

Acontece que sua antena parabólica tem um cano aberto para as chuvas, que armazenou água e se tornou um berço para mosquitos. A vergonha que dona Maria passou não passa de uma história que acabo de inventar, mas a mesma situação acontece com dezenas, até centenas de residências de Guarapuava.

A imprensa já parece um disco furado, que repete a mesma informação sempre, mas mesmo assim parece que apesar do alcance muitas pessoas preferem permanecer cegas a este perigo. Então vamos continuar tocando a mesma faixa até conseguirmos fazer que ao menos parte da sociedade assuma a responsabilidade que tem com a saúde pública.

José Airton Klosowski, coordenador do PNCD (Programa Nacional de Controle da Dengue), e Rodrigo Córdova Silva, médico veterinário e diretor da vigilância em saúde, contam que são feitos trabalhos incansáveis para conscientizar e eliminar os mosquitos, mas mesmo assim é preciso que a população faça a sua parte. Não deixar água parada não é o suficiente, é importante compreender o trabalho dos agentes e permitir que entrem nas residências para fazer uma busca minuciosa. Ao contrário do que alguns podem pensar, a busca não é por culpados, por quem está ‘errado’ em não notar possíveis criadouros do mosquito, mas é um auxílio importantíssimo para que Guarapuava não acabe proliferando o bichinho.

E a região que mais tem esse tipo de mosquito é a próxima da BR, onde os caminhões e carros passam, ou param, trazendo o animal ou até mesmo a doença, então todo cuidado é pouco. Para se ter uma ideia, somente em 2015 foram 1104 larvas encontradas na cidade, ou seja, há muito lugar para que o mosquito desove.

José Airton Klosowski e Rodrigo Córdova Silva mostram larvas e mosquitos já crescidos encontrados em Guarapuava
José Airton Klosowski e Rodrigo Córdova Silva mostram larvas e mosquitos já crescidos encontrados em Guarapuava

Até agora, 38 pessoas procuraram atendimento médico com suspeita de dengue, destes, 11 casos foram confirmados, mas nenhum deles foi contraído aqui em Guarapuava, é o que chamamos de ‘casos importados’, que são de pessoas que viajaram para outros lugares e acabaram se contaminando por lá.

Atualmente com 23 agentes trabalhando na cidade, a vigilância sanitária dá conta de buscar e eliminar criadouros entre 10 a 30% das residências, o que é suficiente ara uma cidade que não tem surto.

Agravante

Os noticiários não para de falar no tal do Zika Virus, que também é transmitido pelo mosquito aedes aegypti. A doença vem gerando preocupação, não por ser incurável ou ter sintomas devastadores, mas pela influência que mantém sobre as gerações seguintes. Pesquisas relacionam o Zika Virus com o nascimento de bebês com microcefalia, e o índice vem aumentando no nordeste do Brasil. No Paraná apenas um caso foi confirmado.

A febre Chikungunya é transmitida pelo mesmo mosquito e é parecida com a dengue, a não ser pelo efeito que tem sobre as articulações, que ficam inflamadas e doloridas. Estas doenças ainda, repito: ainda, não são motivo de preocupação, pois somente a partir do momento em que algum caso for registrado aqui é que serão soados os alertas. Mas como destaca Klosowski, a preocupação é em eliminar o mosquito para que não haja formas de transmissão das três enfermidades que ele transmite.

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