Covid-19: cerca de 90% dos pequenos negócios paranaenses registraram queda de faturamento com a crise
Pesquisa, realizada pelo Sebrae, em parceria da Fundação Getúlio Vargas mostra que a crise causada pela pandemia do coronavírus ocasionou uma perda de faturamento para 90,2% de micro e pequenos negócios paranaenses, média maior que a nacional, de 88,7%.
O prejuízo mensal médio para esses empresários foi de 64,6%. Apenas 0,8% dos negócios apresentaram crescimento do faturamento.
O levantamento ouviu 10.384 microempreendedores individuais (MEI) e donos de micro e pequenas empresas de todo o país. No Paraná, foram ouvidos 681 empresários. Essa é a 3ª edição de uma série iniciada pelo Sebrae no mês de março, pouco depois do anúncio dos primeiros casos da doença no território nacional.
Por conta desses impactos, diz o apontamento, 43,5% dos pequenos negócios paranaenses tiveram que interromper suas atividades temporariamente e 2,2% das empresas fecharam as portas. Além disso, 44,8% dos negócios tiveram que modificar sua maneira de atuar para continuar funcionando.
Busca Por Crédito – outra situação delicada é a busca por crédito. A ampliação dos impactos econômicos da crise provocada pela Covid-19 tem levado um número maior de donos de pequenas empresas a buscar empréstimo para manter o negócio.
No Paraná, 20,3% dos micro e pequenos negócios que solicitaram crédito tiveram sucesso, o sexto melhor índice do País. Ao todo, 34,8% ainda aguardam um retorno enquanto 44,9% dos empresários teve o pedido negado, terceiro menor índice brasileiro. Nacionalmente, 58,2% não obtiveram o empréstimo requerido.
O levantamento do Sebrae confirma uma tendência já identificada em outras pesquisas próprias, de que os donos de pequenos negócios têm – historicamente – uma cultura de evitar a busca de empréstimo. Mesmo com a queda acentuada no faturamento, 62% não buscaram crédito desde o começo da crise. No Estado, o índice foi de 60,2%.
Dos que buscaram, 88,3% o fizeram em instituições bancárias (mesmo índice do Paraná). No Brasil, entre os que procuraram em fontes alternativas, parentes e amigos (43%) são a fonte de empréstimos mais citada, seguidos de instituições de microcrédito (23%) e negociação de dívidas com fornecedores (16%).
Agentes Financeiros – Analisando particularmente a procura de crédito junto aos agentes financeiros, a 3ª Pesquisa do Impacto do Coronavírus nos Pequenos Negócios mostrou que os mais demandados, desde o início da crise, foram os bancos públicos (63%), seguidos dos bancos privados (57%) e cooperativas de crédito (10%). Entretanto, avaliando a taxa de sucesso desses pedidos, o estudo do Sebrae mostrou que as cooperativas de crédito lideram na concessão de empréstimos (31%) e, na sequência, aparecem os bancos privados (12%) e os bancos públicos (9%).
Comportamento dos Pequenos Negócios – A pesquisa revelou que as medidas de isolamento recomendadas pelas autoridades de saúde atingiram a quase totalidade dos pequenos negócios: 44% interromperam a operação, pois dependem do funcionamento presencial.
Outros 32% mantêm funcionamento com auxílio de ferramentas digitais e 12% mantêm funcionamento, apesar de não contar com estrutura de tecnologia digital. Apenas 11% conseguiram manter a operação sem alterações, por outras razões, entre segmentos listados como serviços essenciais.
Para tentar superar o momento de dificuldade, as empresas estão lançando mão de diferentes recursos. Para 29% delas, a alternativa foi passar a realizar vendas on-line, com o uso das redes sociais; 12% disseram ter começado a gerenciar as contas da empresa por meio de aplicativos e 8% passaram a realizar vendas on-line por aplicativos de entrega.
Quanto à gestão dos recursos humanos das empresas, 12% dos entrevistados revelaram que tiveram de demitir funcionários nos últimos 30 dias, em razão da crise; 29% das empresas com empregados suspenderam o contrato de funcionários; outros 23% deram férias coletivas; 18% reduziram a jornada de trabalho com redução de salários; e 8% reduziram salários com complemento do seguro-desemprego; alternativa permitida pela MP 936.
Análise dos Segmentos – A pesquisa avaliou a perda média de faturamento semanal dos microempreendedores individuais, micro e pequenas empresas, de acordo com o segmento de atuação.
Embora todos os setores tenham registrado perdas, elas foram mais sensíveis na atividade da Economia Criativa (eventos, produções etc) (-77%), Turismo (-75%) e Academias de Ginástica (-72%). Já os segmentos com menor perda de faturamento, de acordo com o estudo, foram Pet Shops e Serviços Veterinárias (-35%), Agronegócio (-43%) e Oficinas e Peças Automotivas (-48%).
Guarapuava – Em Guarapuava, a tradicional Casa da Empada, dos proprietários Erondi de Jesus Nascimento e Isaura Figueiredo, é um reflexo da crise provocada pela pandemia do coronavírus. Com mais de 20 anos de atuação no mercado, o comércio sentiu no bolso a chegada das restrições, impostas por decretos municipais, para conter o avanço da Covid-19.
É quando os números se transformam em rostos e nomes, fácil de entender nessa explicação do senhor Erondi: “O movimento, aqui pra nós, caiu em 80%. No começo, tivemos que fechar as portas. Momento de muita preocupação com o futuro.
Depois, podíamos abrir até às 8h da noite. Uma esperança. Em seguida, fomos autorizados a ficar aberto até às 10 da noite. Começou a dar uma melhoradinha. Agora, voltamos de novo a ter que ir até às 8h da noite. Complicou de novo”, lamentou o proprietário.
O experiente comerciante, porém, acredita em uma breve melhora para não ter que recorrer a outros expedientes como fazer empréstimos. “Ainda não penso em pegar dinheiro para continuar tocando meu negócio. Acredito que em breve essa crise vai passar e tudo volta à normalidade”, comentou Erondi.
Se já está difícil para os tradicionais comércios, com anos de estabilização, como a Casa da Empada, imagina para quem tem, apenas, alguns meses de funcionamento. É o caso da novíssima casa de lanches Dellani. A lanchonete, que iniciou suas atividades no início do ano, foi atingida diretamente pelas medidas da prefeitura para conter a transmissão do novo coronavírus. Suas portas mal se abriram e já tiveram que ser fechadas.
Para o dono da lanchonete, Jeferson Dellani, as coisas não poderiam ser piores. Com cinco meses de atividades, seu faturamento também caiu na casa dos 80%. No entanto, o jovem comerciante vai continuar resistindo. “Não penso em desistir, não, pois estou focando no delivery para me manter. Se eu não possuísse delivery já teria fechado as portas”, declarou.
Ao contrário do senhor Erondi, Jeferson vê na possibilidade de um empréstimo outra saída para poder manter seu funcionamento, no entanto, até isso está difícil para o empreendedor. “Gostaria muito de pedir para me ajudar a me manter este ano, mas nem um banco libera empréstimo para uma empresa tão nova.
Até existem linhas de créditos anunciadas pelo governo, mas creio que por conta da minha empresa não ter nem seis meses, que comprovem meu faturamento, provavelmente isso acabe ficando difícil”, avaliou.
Outro lamento do dono da lanchonete é em relação ao horário de funcionamento que, no caso dele, ficou muito curto. “De um lado tenho esse problema financeiro e por outro lado temos os horários de funcionamento, que só podem funcionar das 08h às 20 horas, então os que trabalham de dia podem atender seus clientes por muitas horas, e eu, que abro as 18h horas, como fica a minha situação? Não acha que seria justo atender meus clientes também iguais os que abrem durante o dia, seguindo as orientações e espaçamentos necessários”, desabafou.
Analisando sua posição diante de um futuro incerto, Jeferson é taxativo: “para mim está situação está sendo um mad max. Estou apenas tentando sobreviver para não fechar as portas, e creio que os próximos seis meses sejam parecidos como esses seis meses que vivi.”